15/11/2010

Uma lição foucaultiana

Se for verdade que há sempre algum poder presente em qualquer empreendimento de saber e que não é possível desfazer essa relação, então qual a saída? Como tirar o poder do saber? Como deixar o saber apenas nele mesmo? Cairemos sempre nessa teia? Não sei. Talvez isso não seja possível. E se ao invés de lutarmos para acabar com a relação saber-poder fizéssemos exatamente o contrário, ou seja, disseminássemos o máximo possível a informação (o saber) que o poder encontra-se presente em todas as relações? Que o trabalho de produção do saber é também um trabalho de produção de poder?
Se o trabalho de produção do saber nunca estará completo, logo, o poder nunca terá uma forma definida. Se a produção do saber, e junto com ela a arte de pensar e a arte de escrever, sempre estarão em curso, também estaremos sempre no meio do labirinto do poder, um inelutável labirinto de paredes móveis, mas sem saída.
Se o saber é sempre algo em produção (uma produção infinita) e se o poder é um labirinto, como então se mover nesse labirinto sem ser esmagado por suas paredes móveis?
Talvez a resposta seja: continuar pensando. E junto com o pensar, escrever. Ou dito de outra forma: construir. Construir frases. Ir do início ao fim de uma página. Trabalho braçal. O trabalho de escrita deve atravessar o escritor pelo meio, desmontá-lo e reconstruí-lo em cada frase, tornando-o sempre outro. Outro sempre fugidio, sempre de difícil compreensão para o poder, sempre buscando ser “incapturável”. Ensinando-lhe não apenas novas maneiras de compreensão e entendimento, mas também produzir formas de confundir. Como? Produzindo um saber para outro poder na medida em que este faça ruir a base daquele saber que é imprescindível a manutenção do poder estabelecido.

Resumindo: aceitar que não tem como fugir da relação saber-poder e fazer uso dela, tramando uma produção de saber-poder sempre contestatória.


Alexsandro
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