28/05/2015

A IDIOTICE DA MOTIVAÇÃO EMPRESARIAL



Quem quer ser motivado? Aqueles que não precisam mais de dinheiro. São para esses profissionais que o discurso da motivação surte algum efeito, e sejamos sinceros, são poucos os que de fato se alienam com o conteúdo vazio da motivação.
Quem ainda acredita que motivação substitui salário? Quais palavras motivacionais um "líder" pode usar para substituir o dinheiro que alguém necessite para sobreviver? Alguém, por exemplo, que tenha filhos, quer pagar as contas no final do mês e não receber elogios vazios e hipócritas sobre seu desempenho no trabalho.
Na intenção de conformar os funcionários e dar-lhes algum conforto diante da vida de neo-escravo que levam, muitas dessas falas simplesmente tentam esconder os baixos salários. Ao invés de expor a foto 3X4 de um funcionário em um quadro ridículo, melhor seria oferecer um bônus em dinheiro.
Um fato constrangedor nas empresas é que ninguém ou pouco se fala daquilo que realmente interessa a todo trabalhador: receber um salário poupudo - coisa rara, diga-se de passagem. É isso, as discussões sobre exploração e baixos salários não circulam livremente nos ambientes das empresas, elas são disfarçadas com falas e atitudes medíocres e cínicas advindas sobretudos daquelas que administram.
Diante de um capitalismo miserável, no qual o trabalhador vale muito pouco, a motivação cheira a esterco. Nas bancas e livrarias livros sobre motivação proliferam-se como fungos ou vermes e seus conteúdos não passam de tolas fantasias ou ficções ridiculas sobre um credo cruel e idiotizante a respeito do trabalho e da vida de milhões de pessoas. Podem até surtir algum efeito, mas são como drogas psicotrópicas, apenas dão um colorido psicodélico ao chiqueiro que são as empresas. Quando seu efeito passa, fica a ressaca.


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11/05/2015

PARA QUE SERVIRÃO OS POBRES?


Ao contrário do que muitos pensam, o sinal evidente do avanço e sucesso do mercado não está presente naquelas coisas que consideramos como sendo um sinal de progresso e desenvolvimento, mas justamente no seu contrário, no aumento dos índices de pobreza. Sim, é a pobreza o sinal de que o mercado vai muito bem. E ela não acabará, nem ao menos diminuirá. Nada anuncia um leve sinal de sua redução, porém, mais uma vez, o contrário é o que se anuncia, ou seja, ela continuará aumentando.
Tal fato não é difícil de ser compreendido, como a produção se encontra assentada na tecnologia, basta pensarmos no número de pessoas que estão se tornando economicamente desnecessárias a cada momento. E se assim continuar, não é loucura imaginar que dentro de pouco tempo o processo produtivo exigirá um número reduzido de sujeitos em comparação com a população total. Como conseqüência, a maioria da população não terá nenhum papel econômico relevante no processo produtivo.
Tendo isto em mente, a questão que se apresenta é exatamente a seguinte: o que acontecerá com aqueles menos favorecidos, com a “classe trabalhadora”, com os que não são ricos, enfim, o que acontecerá com os pobres?
Em uma época em que se sentir satisfeito é um pecado abominável, a busca por novas metas e prazeres exige que novos produtos apareçam constantemente no mercado, mas como a satisfação não é o mesmo que felicidade, o prazer tornou-se a meta final. A constante busca pelo prazer na sociedade atual pode ser entendida como uma admissão clara de que aquilo que é feito e realizado na vida cotidiana é tão desprovido de significa que só a fuga dela a torna suportável. Desta forma, vemos despontar toda uma industria do lazer e do prazer prometendo satisfações que compensariam o tédio e a monotonia da vida diária. Como exemplo, podemos citar toda a indústria do turismo.
O que é o turismo se não o processo de transformação de partes do mundo em parques de diversão para que os ricos possam se divertir e fugir do tédio e da monotonia.
Neste ponto, o panorama atual começa a mostrar um quadro cruel. Aqueles que podem se lançam no mundo do consumo irão atrás de satisfação e prazer onde quer que estes se encontrem, podendo escolher a forma de satisfação e os destinos que mais lhes sejam convenientes. E, onde quer que desejarem ir, por conta do dinheiro que possuem, o mundo os esperarão de braços abertos. Por outro lado, como os pobres não possuem dinheiro para fazer turismo e como não há trabalho suficiente para todos eles, só lhes caberão ficar no lugar onde se encontram e divertir os ricos que virão consumir lazer e prazer.
Com uma máquina fotográfica ou filmadora na mão o turista é nada mais que um coletor de imagens. Muito do seu prazer e lazer é vivido em meio à miséria de outras pessoas. Como carniceiros em busca de satisfação, o turista é o emblema e o sinal de que o mundo continua a colocar os pobres aos pés dos ricos.
Desta forma, partindo das tendências atuais e verificando como o setor turístico está se configurando, a resposta mais obvia a pergunta “para que servirão os pobres?”, não poderá ser outra, qual seja: na configuração da nova ordem mundial os pobres servirão para divertir os ricos, para alivia-los do tédio e da monotonia.


Alexsandro

06/04/2015

NÃO É O FIM DO MUNDO, MAS PODE ACONTECER ANTES DO FIM DO MÊS


Zeca Baleiro tem uma música (Drumembeis) na qual um dos seus versos diz assim: “Tá todo mundo com medo do fim do mundo / mas pior que fim do mundo / para mim é o fim do mês.” O que representa essa declaração? Que as preocupações cotidianas são aquelas que tomam conta de nossas vidas. Estamos mais preocupados em garantir o próximo fim do mês do que em garantir a continuação da espécie humana. Que estamos mais preocupados com a água da geladeira do que a do reservatório. Que pouco importa o mundo todo se o meu emprego estiver garantido. Que pouco importa o atentado terrorista desde que não atentem contra meu quintal.
Vivemos atualmente, como população de um país, Brasil, e como humanidade, uma série de problemas cuja novidade se encontra no grau de sua escala e no real perigo que representam para a vida humana na forma como ela se encontra hoje sendo experimentada. Isso significa que, nosso modo de vida pode acabar a qualquer instante, vivemos sob ameaças constantes, a forma como vivemos é uma bomba prestes a explodir. O motivo? Muitos problemas que hoje afetam o Brasil podem ser vistos em outras partes do mundo. E problemas que já afetam outras partes do mundo logo chegarão por aqui. Problemas para os quais não estamos preparados para enfrentar e pior, não estamos nos preparando para enfrentá-los. Não são problemas que virão, são problemas que ai já se encontram em andamento. Ao listá-los e ao verificar a gravidade de cada um, somado a inércia geral em não querer perceber. Ou, fazendo de conta que eles não são problemas e se são, não nos dizem respeito, temos uma equação cujo resultado se apresenta perigoso. A lista dos problemas que se anunciam não é difícil de fazer, assim como não é um mistério para ninguém. Mas qual o motivo de não prestarmos atenção? É que estamos preocupados com o fim do mês.


Colapso econômico
Vivemos na iminência de um colapso econômico. Nossa economia se baseia em um parâmetro de relação cujo dois dos seus principais componentes não fecham uma conta exata: a dívida e o crédito. É possível entender a linha fina na qual todo nosso modo de vida se sustenta se entendermos que há mais dívidas no mercado do que crédito para pagá-las. Se for somado as dívidas pessoais, institucionais, empresariais e estatais, há mais dívida no mundo que recursos financeiros para pagá-las. Vivemos na iminência de uma falência geral, para tanto basta chegar um momento no qual não se tenha como pagar as dívidas.


Escassez de água
Quando se fala em escassez de água pode parecer um assunto batido ou do qual todos já tem consciência e esclarecimento sobre a relevância de compreender os riscos que corremos. O problema é que não é isso que acontece. Bem pelo contrário, não se encontra em andamento nenhum programa sério para encarar o problema.
O Brasil é um bom exemplo do descaso geral de como o problema da água vem sendo tratado: desperdícios os mais variados e contaminação pelos mais diversos tipos de produtos definem a forma irresponsável como tratamos a água por aqui. Mas vale lembra que isso acontece no mundo todo.


Crescimento populacional em um mundo de recursos finitos
Outra conta que não estamos fazendo é a da relação entre recursos finitos e crescimento populacional.
A população brasileira mais do que dobrou em menos de cinquenta anos. Se formos analisar esse crescimento em termos mundiais a questão fica ainda mais grave. O que assistimos é o consumo cada vez mais rápido dos recursos naturais por um número cada vez maior de pessoas.
Se somarmos escassez de água e crescimento populacional o quadro fica delicado: devemos entender que para sobrevivermos dependemos de produtos, alimentícios ou não, vindos das mais diversas partes do mundo, esses produtos precisam ser produzidos e depois transportados, o que temos é uma bola de neve que só cresce. Muitos desses produtos demandam água ou a poluem. Água que precisamos em maior quantidade a cada ano por conta do aumento populacional. Uma população que consome cada vez mais, o que leva a diminuição dos recursos naturais e que polui a água em ritmo também crescente.


Um mundo sustentado pelo petróleo
Chegamos ao limiar de uma era – a era do petróleo. Criamos toda uma civilização dependente de um produto natural finito e que agora aponta para seu final. O mais grave aqui é que não há alternativa viável que o substitua, ou seja, não existe nenhum outro recurso que consiga fazer aquilo que o petróleo faz com o grau de sua abrangência e velocidade.
Para avaliar o significado do fim do petróleo e do impacto que isso causará basta pensar em apenas cinco setores do nosso modo de vida cuja presença dele é significativa, para não dizer fundamental em alguns: remédios, fertilizantes, comidas, produtos plásticos e combustíveis.


Terrorismo nuclear
Diz respeito a posse de armas nucleares por grupos terroristas. Um problema para o qual poucos dão atenção, mas cujo perigo é real e devastador. Um perigo que não exclui ninguém.


Vivemos na eminência de uma crise energética. Vivemos na eminência de uma pandemia. Vivemos na eminência de um  colapso da produção e distribuição de alimentos. Agora fico imaginando o seguinte: se uma greve de caminhoneiros desestabilizou nosso modo de vida, o que dizer de problemas realmente graves, como a falta de combustível? Se a maior cidade do país passa pela crise mais séria de sua história em termos de falta de água e nada de relevante está sendo feito, o que dizer do resto do país? A resposta é simples, mas assustadora: não estamos preparados, seja individual ou coletivamente, para enfrentar os problemas que virão.



Alexsandro

31/03/2015

CASAIS CONGRUENTES EM RELACIONAMENTOS PUROS OU CASAIS DE CONTAS SEPARADAS



Não faz muito tempo que encontrei um colega que já não via a certo tempo e como em todo encontro inesperado, com pessoas a quem conhecemos mas com quem não mantemos laços muito profundo, geralmente recorremos a perguntas trivias e foi assim que fiz, iniciei perguntando como andava o curso – ele havia começado um curso universitário fazia um tempo. Disse que estava indo, que já se encontrava no sexto semestre e continuou falando mais um pouco. Quando parou de falar interroguei sobre sua esposa, perguntei como ela estava e se também continuava estudando – eu sabia que ela estudava na mesma universidade. A resposta que obtive foi curiosa e é por conta dela que escrevo este texto.
Ele disse que ela tinha parado de estudar, que estava desempregada e que não tinha como pagar a universidade, que provavelmente voltaria assim que as coisas melhorassem. O que achei curioso? A naturalidade com que falou sobre a situação da esposa, como se o que ela estava passando não fosse de sua responsabilidade, ou seja, o fato dela não está estudando por não poder pagar a mensalidade não fazia parte do rol dos seus problemas, era, acredito que ele pensa assim, problema dela. Ele agiu como se não fosse.
Tal fato isolado que vivenciei chama ainda mais a atenção quando passamos a perceber que ele não é isolado, pelo contrário, é um fenômeno vivido por muitos casais. São os casais congruentes em relacionamentos puros ou, como prefiro chamar, casais de contas separadas.
O que é um casal congruente? É um casal que estando juntos podem ou não viver vidas separadas. É o casal que ao fazerem coisas juntos acham aquilo bom, mas se um deles tivesse de fazer sozinho não ai fazer a menor diferença. Enfim, podem fazer coisas juntos, mas se não fizerem não faz a menor diferença. Se um tem dinheiro e o outro não tem, o problema não é sentido como sendo do casal. Cada um tem sua própria lista de contatos e pouco importa quem são os contatos do outro. Quando um decide fazer alguma coisa, acredita que comunicar já é o bastante e algo para além disso é desnecessário, afinal, sente-se livre para optar por aquilo que lhe for conveniente e fazer o que achar melhor. Quanto ao outro? Fará o mesmo quando chegar sua vez.
O que é um relacionamento puro? É o relacionamento que “tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se entra ‘pelo que cada um pode ganhar’ e se ‘continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem na relação’.
O atual "relacionamento puro", na descrição de Giddens, não “é, como o casamento um dia foi, uma "condição natural" cuja durabilidade possa ser tomada como algo garantido, a não ser em circunstâncias extremas. É uma característica do relacionamento puro que ele possa ser rompido, mais ou menos ao bel-prazer, por qualquer um dos parceiros e a qualquer momento. Para que uma relação seja mantida, é necessária a possibilidade de compromisso duradouro. Mas qualquer um que se comprometa sem reservas arrisca-se a um grande sofrimento no futuro, caso ela venha a ser dissolvida.”

Quais as consequências de uma vida de casal congruente em relacionamentos puros? Responder exige outro texto e por hoje já gastei minhas quinhentas palavras.

27/03/2015

ALHO, CEBOLA E BEIJO NA BOCA, OU, UMA ÉPOCA DE IRONIAS




Talvez estejamos vivendo numa época na qual a ironia seja sua maior representante. Afinal, é ou não é irônico vermos as seguintes situações?

- Corruptos lutando contra a corrupção.
- Infelizes oferecendo receitas para a felicidade.
- Idiotas que se dizem donos do melhor conhecimento. (Não importa qual seja o tema)
- Honestos que enganam qualquer um. (Desde que o produto seja vendido, a quem importa ser honesto)
- Intolerantes falando de amor ao próximo.
- Mortais que falam de amor eterno.
- Hipócritas gritando que acreditam. (Em que? Sabe-se lá o que.)
- Gente livre que afirma não haver alternativa.
- Gente presa que afirma ser livre.
- Estudantes que não estudam.
- Amantes que não amam.
- Justiceiros do injusto.
- Fracassados que falam em sucesso.
- Burocratas que pregam espontaneidade.
- Gente que afirma que paga um alto preço para ser como é, mas que, ironicamente, venderam-se por muito pouco.
- Conformistas que falam em revolução.
- Rebeldes em Ferraris.
- Aventureiros de escritórios.
- Vagabundos que trabalham.
- Gente ruim que é vista como boa.
- Gente boa que é vista como ruim.
- Gente que tem a capacidade de defender duas crenças ou ideias contraditórias, ou seja, é capaz de defender uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo, chegando a incrível situação de saber que está errada, mas se convence de que está certa.

Tais ironias se devem a muitos fatores, mas também não deixa de ser irônico o fato de que a mais de cinquenta anos George Orwell tenha cunhado o termo “duplipensar” como tentativa de definir esse jogo de incoerências tão recorrentes na vida moderna.
Duplipensar é, no entendimento do próprio Orwell:
“Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra "duplipensar" era necessário usar o duplipensar.”



Alexsandro