27/03/2015

ALHO, CEBOLA E BEIJO NA BOCA, OU, UMA ÉPOCA DE IRONIAS




Talvez estejamos vivendo numa época na qual a ironia seja sua maior representante. Afinal, é ou não é irônico vermos as seguintes situações?

- Corruptos lutando contra a corrupção.
- Infelizes oferecendo receitas para a felicidade.
- Idiotas que se dizem donos do melhor conhecimento. (Não importa qual seja o tema)
- Honestos que enganam qualquer um. (Desde que o produto seja vendido, a quem importa ser honesto)
- Intolerantes falando de amor ao próximo.
- Mortais que falam de amor eterno.
- Hipócritas gritando que acreditam. (Em que? Sabe-se lá o que.)
- Gente livre que afirma não haver alternativa.
- Gente presa que afirma ser livre.
- Estudantes que não estudam.
- Amantes que não amam.
- Justiceiros do injusto.
- Fracassados que falam em sucesso.
- Burocratas que pregam espontaneidade.
- Gente que afirma que paga um alto preço para ser como é, mas que, ironicamente, venderam-se por muito pouco.
- Conformistas que falam em revolução.
- Rebeldes em Ferraris.
- Aventureiros de escritórios.
- Vagabundos que trabalham.
- Gente ruim que é vista como boa.
- Gente boa que é vista como ruim.
- Gente que tem a capacidade de defender duas crenças ou ideias contraditórias, ou seja, é capaz de defender uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo, chegando a incrível situação de saber que está errada, mas se convence de que está certa.

Tais ironias se devem a muitos fatores, mas também não deixa de ser irônico o fato de que a mais de cinquenta anos George Orwell tenha cunhado o termo “duplipensar” como tentativa de definir esse jogo de incoerências tão recorrentes na vida moderna.
Duplipensar é, no entendimento do próprio Orwell:
“Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra "duplipensar" era necessário usar o duplipensar.”



Alexsandro