Talvez estejamos
vivendo numa época na qual a ironia seja sua maior representante. Afinal, é ou
não é irônico vermos as seguintes situações?
- Corruptos lutando
contra a corrupção.
- Infelizes
oferecendo receitas para a felicidade.
- Idiotas que se
dizem donos do melhor conhecimento. (Não importa qual seja o tema)
- Honestos que
enganam qualquer um. (Desde que o produto seja vendido, a quem importa ser
honesto)
- Intolerantes
falando de amor ao próximo.
- Mortais que falam
de amor eterno.
- Hipócritas
gritando que acreditam. (Em que? Sabe-se lá o que.)
- Gente livre que
afirma não haver alternativa.
- Gente presa que
afirma ser livre.
- Estudantes que não
estudam.
- Amantes que não
amam.
- Justiceiros do
injusto.
- Fracassados que
falam em sucesso.
- Burocratas que pregam
espontaneidade.
- Gente que afirma
que paga um alto preço para ser como é, mas que, ironicamente, venderam-se por muito
pouco.
- Conformistas que
falam em revolução.
- Rebeldes em Ferraris.
- Aventureiros de
escritórios.
- Vagabundos que
trabalham.
- Gente ruim que é
vista como boa.
- Gente boa que é
vista como ruim.
- Gente que tem a capacidade de defender duas crenças ou ideias contraditórias,
ou seja, é capaz de defender uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo,
chegando a incrível situação de saber que está errada, mas se convence de que
está certa.
Tais ironias se devem a muitos fatores, mas também não deixa de ser irônico
o fato de que a mais de cinquenta anos George Orwell tenha cunhado o termo “duplipensar”
como tentativa de definir esse jogo de incoerências tão recorrentes na vida
moderna.
Duplipensar é, no entendimento do próprio Orwell:
“Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir
mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões
opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a
lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na
impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia;
esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente
no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o
próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir
conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de
hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra
"duplipensar" era necessário usar o duplipensar.”
Alexsandro