27/11/2008

DIREITO À PREGUIÇA


Se fosse possível por um toque de mágica arrancar do coração dos homens e mulheres que trabalham a tola ideia de que trabalhar dignifica e se ao invés dessa ignóbil moral de escravo tivéssemos em seu lugar a ideia de que quanto menos trabalho existir melhor, esses homens e mulheres seriam outros. Mas esse homem e mulher, corrompidos pelas ideias capitalistas, segue em cortejo o maldito encantamento dos bois de carroça, assim como bem falou Paul Lafargue:
Tal como Cristo, dolente personificação da escravatura antiga, os homens e as mulheres sofrem penosamente, desde há um século, o duro calvário da dor: desde há um século, o trabalho forçado parte-lhes os ossos, mortifica-lhes a carne, arrasa-lhes os nervos; desde há um século, a fome contorce-lhes as entranhas e alucina-lhes a cabeça!...
Ó Preguiça, tem piedade da nossa longa miséria! Ó Preguiça, mãe das artes e das nobres virtudes, sê bálsamo para as angústias humanas!"
 Chega de clamar por direito ao trabalho, é hora do direito à preguiça.

15/11/2008

Os Cinco Livros Que Mais Me Influenciaram


Pergunta um: Qual foi o primeiro livro que te fez perceber que alguma coisa estava errada (com o planeta/sistema político/sistema econômico, etc.)?

Jensen: Não foi um livro. Foi a destruição de lugar após lugar que eu amava. E foi a completa insanidade de uma cultura onde tantas pessoas trabalham em trabalhos que elas odeiam: O que significa quando a vasta maioria das pessoas gastam a vasta maioria de suas horas acordadas fazendo coisas que elas preferiam não fazer? A própria cultura me convenceu de que alguma coisa estava errada, ao ser tão extraordinariamente destrutiva, da felicidade humana, e muito mais importante, do próprio mundo. Tendo dito isso, o livro The Natural Alien de Neil Evernden foi o primeiro que eu li que me fez saber que eu não era insano: que a cultura é insana. Foi o primeiro livro que eu li que não tomou a visão mundial utilitária da cultura dominante como realidade admitida.

Pergunta dois: Qual livro você daria para cada político?

Jensen: Um que exploda. Antes de você se assustar, vamos mudar a pergunta e ver o que você pensa: Qual livro você daria a Hitler, Goering, Himmler, e Goebbels? Vamos perguntar isso de outra forma: Um livro mudaria Hitler? Eu acho que não. A não ser que ele explodisse. E antes de você se assustar com a comparação de políticos modernos com Hitler e sua turma, tente ver isso da perspectiva do salmão selvagem, dos ursos pardos, do atum-rabilho, ou qualquer um dos seres humanos pobres (financeiramente) ou indígenas. Aqueles que estão agora no poder são mais destrutivos do que qualquer um já foi. E eles são em sua maior parte psicologicamente inatingíveis. E se alguém consegue atingir algum político, esse político não estará mais no poder.
Recentemente eu dividi um palco com Ward Churchill. Ele disse que a diferença principal entre os E.U.A. e os Nazistas é a de que os E.U.A. não perderam. Eu respondi com uma palavra: "Ainda."

Pergunta três: Que livro você daria para cada presidente de uma empresa?

Jensen: Veja acima.

Pergunta quatro: Que livro você daria para cada criança?

Jensen: Eu não daria um livro para elas. Os livros são parte do problema: essa estranha crença de que uma árvore não tem nada a dizer até que seja assassinada, seu corpo transformado em polpa, e então pessoas (humanas) mancham esse corpo com palavras. Eu levaria as crianças para fora, e as colocaria cara a cara com esquilos, libélulas, girinos, beija-flores, pedras, rios, árvores, camarões-de-água-doce. Tendo dito isso, se você vai me forçar a dar um livro para eles, teria que ser The Wind in the Willows, que eu espero, iria lembrá-los de sair para fora.

Pergunta cinco: É o ano 2050. As calotas de gelo estão derretendo, os níveis do mar estão subindo. Você só pode levar um livro na Arca. Qual seria?

Jensen: Eu não levaria um livro, e eu não entraria na arca. Eu me mataria (e levaria uma represa junto comigo). Eu não quero viver sem uma base de terra viva. Sem uma base de terra viva eu já estaria morto. Nenhum livro iria nem remotamente compensar. Nem um milhão de livros. Nem um milhão de computadores. Nem um milhão de pessoas iriam compensar.



Derrick Jensen