03/07/2014

Ironia, injustiça e prazer

Ironia é uma palavra cara. E quantas ironias preenchem nossas vidas. Uma delas? O fato da gente não prestar atenção às velhas lições. Lições como a do velho e rabugento Schopenhauer. Afinal não foi ele quem fez uma primorosa relação entre egoísmo e política? Quando que a gente vai aprender que a política é o campo de luta de vontades egoístas? Não é ele que aponta como a deusa do mundo (político) Éris, a deusa da discórdia?
“Por natureza, o egoísmo é ilimitado: o homem quer conservar a sua existência utilizando qualquer meio ao seu alcance, quer ficar totalmente livre das dores que também incluem a falta e a privação, quer a maior quantidade possível de bem-estar e todo o prazer de que for capaz, e chega até mesmo a tentar desenvolver em si mesmo, quando possível, novas capacidades de deleite. Tudo o que se opõe ao ímpeto do seu egoísmo provoca o seu mau humor, a sua ira e o seu ódio: ele tentará aniquilá-lo como a um inimigo. Quer possivelmente desfrutar de tudo e possuir tudo; mas, como isso é impossível, quer, pelo menos, dominar tudo: ‘Tudo para mim e nada para os outros’ é o seu lema. O egoísmo é gigantesco: ele rege o mundo.”
Como traduzir? Fácil: cada um e todos buscam o melhor para si independentemente do outro (se é bom para mim, então é bom e foda-se o outro). E se a felicidade do outro for um impedimento para a minha, que a dele se acabe. Se a vida dele é um obstáculo para que a minha vida se expanda, que ele morra. Meu bem-estar é tudo e o bem-estar do outro é nada. Expressão máxima do egoísmo.
Se o limite para uma existência melhor, mais prazerosa e agradável é a existência do outro, atos de injustiça serão apenas uma ponte para chegar a margem que se deseja. Ou, no final das contas, injustiça será lida como aquilo que impede que alguém se expanda.
Sim, tentamos criar muitos mecanismos que impeçam o egoísmo de florescer (lei, crenças, valores), mas sempre foi um trabalho de Sísifo.
O único remédio contra a injustiça é renunciar ao prazer. Alguém ai tem disposição para tanto?


Alexsandro



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