26/07/2010

Pastores à beira de um ataque de nervos




Pode parecer que estamos tirando uma com a cara dos pastores evangélicos, mas o pior é que não estamos (pelo menos não dessa vez). A quem o assunto interessar é só fazer uma busca na net e verificar que o assunto é sério e verdadeiro, ou seja, muitos pastores estão surtando. Os motivos apontados são vários:
- descuido com a saúde mental;
- solidão;
- falta de acompanhamento para compartilhar seus problemas;
- ativismo ministerial;
- falta de repouso adequado;
- pressão institucional por resultados em termos de número de membros e ofertas.
Este último ponto acaba sendo o mais que mais provoca problemas. O motivo? O desencontro entre o chamado de Deus e a prática pastoral revelado no conflito interior de ser um homem de Deus, mas que vive sendo cobrado por uma organização (muitas com sentido empresarial) que os afeta com freqüentes cobranças por resultados contábeis: dízimos, ofertas, de batismos, etc. Um dia sonharam servindo a Deus e hoje se vêem como apenas mais um funcionários da OASD - Organização Arrecadadora do Sagrado Dízimo.
A coisa se complica quando os fieis confrontam seus pastores em busca de posturas mais condizentes com o cargo que ocupam, esses se vêem em conflito por serem constrangidos a agirem incoerentemente, ou melhor, de forma oposta aos princípios bíblicos e tendo certeza que os fieis notarão.
Não podemos informar com certeza até que ponto os números a seguir são coerentes, mas se forem a coisa se revela assustadora, sobretudo por saber que essas pessoas são vistas como referência em vários quesitos.
47% dos pastores evangélicos sofrem de transtornos mentais
16% têm depressão
13% Não conseguem dormir normalmente

O quadro que constatamos lendo algumas reportagens na net é o seguinte:
- pastores estressados, a ponto de explodir;
- pastores em tratamento psicológico e psiquiátrico;
- pastores com crises de depressão profunda;
- pastores tendo crises emocionais durante os sermões;
- pastores dependentes de remédios de tarja preta;
- pastores que apresentam tendências suicidas;
- pastores cujas famílias viraram a válvula de escape de seus problemas e se tornam vitimas dos seus ataques físicos e emocionais.


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13/07/2010

Um conto atemporal

Lançada como primeiro single do álbum Breakfast in America em 1979, "The Logical Song" (A canção lógica) é uma música da banda britânica Supertramp. Foi escrita e interpretada por Roger Hodgson.

A letra fala da perda da inocência. Critica o sistema educacional que não é centrado no conhecimento nem na sensibilidade, mas sobretudo na "lógica", no "bom senso" e na "coerência". A música fala de um homem que é retirado do ambiente encantado da infância e colocado na escola com o intuito de ser preparado para um futuro promissor, embora desprovido de qualquer espontaneidade. Enfim, um mundo que o preciona a ser um conformista. Perdido nesse mundo ela já não sabe quem é.





Quando eu era jovem,
Parecia que a vida era tão maravilhosa,
Um milagre,oh ela era tão bonita,mágica.
E todos os pássaros nas árvores,
Eles cantavam tão felizes,
Alegres,brincalhões,me olhando.
Mas aí eles me mandaram embora,
Para me ensinar a ser sensato,
Lógico,responsável,prático.
E mostraram um mundo
Onde eu poderia ser dependente,
Doente,intelectual,cínico.

Tem vezes,quando todo mundo dorme,
As questões correm profundas demais
Para um homem tão simples.
Por favor,me diga o que aprendemos
Eu sei que soa absurdo,
Mas por favor me diga quem eu sou.

Eu digo :
Agora cuidado com o que você diz,
Ou eles estarão te chamando de radical,
Liberal,fanático,criminoso
Você não vai assinar seu nome,
Gostaríamos de sentir que você é
Aceitável,respeitável,aprensentável,um vegetal !

À noite,quando todo mundo dorme,
As questões correm tão profundas
Para um homem tão simples.
Por favor,me diga o que aprendemos
Eu sei que soa absurdo,Mas por favor me diga quem eu sou.
Quem eu sou...


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09/07/2010

Só uma palavra me devora



A música Jura Secreta foi gravada primeiramente por Fagner.
Aqui numa versão nas vozes de Simone e Zélia Duncan.
A composição é de Sueli Costa e Abel Silva.

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que eu não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
Do que por não saber ainda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofrí


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07/07/2010

Três lições copernicanas

Nicolau Copérnico (1473-1543), astrônomo polonês,
conhecido pela teoria heliocêntrica que havia sido descrita
por Aristarco de Samos, segundo a qual o Sol se encontrava
no centro do Universo e a Terra girava em torno deste.


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Parece fácil afirmar hoje que o Sol está no centro do Sistema Solar e que os planetas giram à sua volta em órbitas elípticas. Como poderíamos pensar diferentemente, visto que este é o arranjo mais óbvio de nossa vizinhança cósmica? Na verdade a coisa não é bem assim. O que vemos é o Sol girar em torno da Terra e não o oposto. Afinal, não é o sol que nasce no leste e se põe no oeste? Fazer a Terra girar em torno do Sol é, no mínimo, contra-intuitivo. Não é à toa que apenas em 1543, com a publicação do livro de Nicolau Copérnico, onde ele descreve o Sistema Solar com o Sol no centro, é que começou – lentamente – a ficar claro que nem sempre o que vemos ou percebemos do mundo é o que corresponde à realidade. Estranha essa idéia de que o arranjo do cosmo pode ser tão distinto daquilo que o bom senso ditaria.

Esta é a primeira lição copernicana: os sentidos podem construir uma realidade falsa se não tiverem a razão ao seu lado.

Por que Copérnico resolveu desafiar dois milênios de sabedoria, baseada na filosofia de Aristóteles? A igreja havia já adotado a descrição aristotélica do cosmo, onde a Terra ocupava o centro, sendo circundada pela Lua, Sol, planetas e estrelas. A parte mais oportuna deste arranjo cósmico para a igreja era a separação que Aristóteles fazia entre o mundo sublunar, onde as mudanças e transformações materiais podiam ocorrer, e o resto do cosmo, onde tudo era eternamente igual. A decadência humana era então associada a mudanças materiais (e carnais) perto da Terra, enquanto a perfeição ficava longe, na morada de Deus. Pôr o sol no centro era destruir este arranjo, pois transformava a Terra em mais um planeta e não no centro de mudanças e transformações. E o Sol, sendo perfeito e eterno não podia pertencer à subesfera da decadência. Para pôr o Sol no centro, era necessário criar uma nova física, em que a Terra e os planetas obedecessem os mesmos princípios. Dois motivos levaram Copérnico a dar esse passo, ambos baseados em um impulso estético. O primeiro, que os movimentos celestes deveriam ser em órbitas circulares e com velocidades constantes. Essa idéia era quase que sagrada, um princípio criado por Platão, o mestre de Aristóteles. Por que o círculo? Pois ele, sendo a figura geométrica mais perfeita, onde todos os pontos são equivalentes, deveria, sem dúvida, ter sido a escolha do Demiurgo, a divindade grega que arquitetou o cosmo e suas estruturas. O segundo princípio estético usado por Copérnico era, claro, o arranjo dos planetas em torno do Sol. Conhecia-se já, na época, o período orbital dos planetas, o tempo que eles demoravam para dar uma volta completa em torno do Sol. Portanto, raciocinou Copérnico, basta arranjá-los em ordem crescente, de modo que Mercúrio, de período mais curto, fique mais perto do Sol e Saturno de período mais longo, fique mais longe (não se conheciam ainda os outros planetas Urano, Netuno e Plutão, invisíveis a olho nu). Com estes princípios estéticos, Copérnico criou um novo arranjo do Sistema Solar, desafiando o pensamento aristotélico, mesmo sem ter qualquer prova de que suas idéias estavam certas.

Esta é a segunda lição copernicana: a inspiração para a ciência muitas vezes é guiada por princípios estéticos.

Mas estética não garante precisão. Apenas através de uma confirmação direta, baseada em medidas e sua análise quantitativa, é que podemos julgar ou não a validade de uma hipótese sobre a natureza, por mais atraente ou elegante que ela seja. A estética é uma sedutora ambígua, fundamental e traiçoeira. Passaram-se mais de 50 anos até que as idéias copernicanas começaram a ser aceitas. Por que toda a demora? Será que os astrônomos da época eram incompetentes? A virada começou com Galileu e Kepler no início do século 17, ambos grandes defensores de Copérnico, por motivos diferentes. A razão foi a falta de confirmação observacional dessas idéias, aliada a um número relativamente pequeno de pessoas trabalhando em astronomia na época. Mais ainda, a posição da igreja e dos luteranos também não ajudava muito. Os seguidores de Copérnico tiveram um trabalho muito maior do o próprio, pois eles tiveram de testar as idéias e aprimorá-las, como foi o caso de Kepler com as órbitas elípticas, que seriam extremamente "feias" para Copérnico.

Esta é a terceira lição copernicana: em ciência, como em qualquer outra atividade criativa, ninguém pode trabalhar sozinho. O conhecimento é como uma corrente em que cada idéia é um elo, uns mais fracos, outros mais fortes, forjados todos pela nossa curiosidade.

Marcelo Gleiser


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04/07/2010

Das sombras as sombras

O amor de Orfeu e Eurídice: do sofrimento como motivação para ajudar

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Orfeu apaixonou-se por Eurídice e casou-se com ela. Mas Eurídice era tão bonita que pouco tempo depois do casamento atraiu um apicultor chamado Aristeu. Quando ela recusou suas atenções ele a perseguiu. Tentando escapar ela tropeçou em uma serpente que a picou e a matou. Por causa disso as ninfas, companheiras de Eurídice, fizeram todas as suas abelhas morrerem.
Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira foi até o Mundo dos Mortos para tentar trazê-la de volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo vivo pelo rio Estige. A canção da lira adormeceu Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões. Seu tom carinhoso aliviou os tormentos dos condenados. Encontrou muitos monstros durante sua jornada e os encantou com seu canto. Finalmente Orfeu chegou ao trono de Hades. O rei dos mortos ficou irritado ao ver que um vivo tinha entrado em seu domínio, mas a agonia na música de Orfeu o comoveu e ele chorou lágrimas de ferro. Sua esposa, a deusa Perséfone, implorou-lhe que atendesse o pedido de Orfeu. Assim, Hades atendeu seu desejo. Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos. Mas com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol. Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração enquanto caminhava para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás até atingir a luz do sol. Mas então se virou, para se certificar de que Eurídice o estava seguindo. Por um momento ele a viu perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de novo um fino fantasma (ou em outras versões uma estátua de sal), seu grito final de amor e pena, não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Ele a havia perdido para sempre. Em desespero total Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo lembrar-se da perda de sua amada.
Posteriormente deu origem ao Orfismo, uma espécie de serviço de aconselhamento; ele ajudava muito os outros com seus conselhos , mas não conseguia resolver seus próprios problemas, até que um dia, furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a música do lirista, mas elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois despedaçaram seu corpo e jogaram sua cabeça cortada no rio Hebro, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!" Chorando, as nove musas reuniram seus pedaços e os enterraram no monte Olimpo. Dizem que desde então os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu à sua amada Eurídice.

Algumas interpretações deste mito dizem que as pessoas que se dedicam a ajudar os outros são pessoas que reconhecem que sofrem ou sofreram algum problema grave e agora buscam evitar que os outros sofram o que eles sofreram, ou seja, é aquele que cura, mas que não consegue se auto curar. Dizem ainda que no fundo essas pessoas estão se auto enganando, pois evitar que os outros sofram não vai apagar o que eles mesmos sofreram.


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