26/01/2010

O valor de todas as coisas (2)

Os depoimentos foram retirados do livro "No Logo", de Naomi Klein:



Em nossas instalações de fabricação, administração e distribuição, temos uma filosofia específica - as câmeras fazem com que as pessoas honestas continuem honestas.
Leo Myers, engenheiro de segurança e sistema de vigilância da Mattel, explicando o uso entusiástico pela empresa de sistemas de vigilância sobre sua força de trabalho global, 1990


Semana sim, semana não, retiro da prateleira o que não acho que seja de qualidade Wal-Mart.
Teresa Staton, gerente da loja Wal-Mart em Cheraw, na Carolina do Sul, sobre a prática da cadeia de censurar revistas com capas provocativas, The Wall Street Journal, 22 de outubro de 1997


Não existe tanta angústia, é apenas consumismo desenfreado.
CEO da MTV Tom Freston, descrevendo o conteúdo da MTV indiana, junho de 1997


É terrível dizer isso, mas com muita freqüencia as roupas mais empolgantes são as das pessoas mais pobres.
Estilista Christian Lacroix na Vogue, abril de 1994


Acordo toda manhã, pulo no chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia de como tenho de agir, isto é, 'Just do it'.
Empresário da internet de 24 anos Carmine Colletion sobre sua decisão de tatuar a logo da Nike no seu umbigo, dezembro de 1997




P.S.: Tais depoimentos demonstram como o capitalismo penetrou no mundo e isso me assustam verdadeiramente.


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20/01/2010

A paz do Senhor


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A expressão "A paz do Senhor" é uma frases bastante conhecida. Já a ouvi da boca de muita gente, pessoas que ao pronunciá-la se acreditam cristãs e que encontraram a paz. Se assim é, pergunto, porque essa paz tão propagada, tão anunciada, não se manifesta? Quando penso na idéia de paz penso em algo equilibrado, sereno, confiante, compreensivo. Quando penso em alguém que encontrou a paz, penso em alguém que se dá ao respeito e que respeita, alguém que não precisa provar mais nada para ninguém e que não se preocupa com aquilo que os outros dizem a seu respeito e, muito menos, provoca os outros com seus pensamentos e idéias.
Alguém que encontrou a paz, acredito, não precisa de mais nada ou, ao menos, não carrega o peso da existência da mesma forma que alguém que não a encontrou. O triste é constatar que muitos daqueles que se pronunciam como anunciadores da "paz do Senhor" são na verdade bastantes cruéis e nada promotores da paz.
Não tenho dúvidas de que a paz, seja a do Senhor, para as pessoas religiosas, seja a humana, para as pessoas não religiosas, é algo importante para todos.
Se há diferenças entre a "Paz do Senhor" e a "Paz Humana", elas devem existir em algum lugar onde a serenidade e a compreensão são os juízes, em algum lugar onde podemos nos sentir humanos e aceitos como somos.

Alexsandro


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14/01/2010

Uma lição nietzscheana: considerar de modo diferente do desejável


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A filosofia, tal como até agora a entendi e vivi, é a vida voluntária no gelo e nos cumes - a busca de tudo o que é estranho e questionável no existir, de tudo que a moral até agora baniu.

Uma longa experiência, trazida por tais andanças pelo proíbido, ensinou-me a considerar de modo bem diferente do desejável as razões pelas quais até agora se moralizou e se idealizou.


Nietzsche


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Na Natureza Selvagem


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"Na Natureza Selvagem" é um filme dirigido por Sean Penn, baseado no livro homônimo, do jornalista Jon Krakauer, que conta a história verídica de Christopher McCandless, um jovem recém-formado que se aventura pelos Estados Unidos da América até chegar ao inóspito Alasca.
Em 1990, com 22 anos, Christopher McCandless ao terminar a faculdade, doa todo o seu dinheiro a uma instituição de caridade, muda de identidade e parte em busca de uma experiência genuína que transcendesse o materialismo do quotidiano. Abandona, assim, a próspera casa paterna sem que ninguém saiba e vai para a estrada. Vagueia por uma boa parte da América (chegando mesmo ao México) à boleia, a pé, ou até de canoa, arranjando empregos temporários sempre que o dinheiro faltasse pois, Chris acaba por abandonar o seu carro e queimar todo o dinheiro que levava consigo para se sentir mais livre, mas nunca se fixando muito tempo no mesmo local. Desconfiado das relações humanas e influenciado pelas suas leituras, que incluíam Tolstoi e Thoreau, ansiava por chegar ao Alasca, onde poderia estar longe do homem e em comunhão com a natureza selvagem e pura. O que lhe acontece durante este percurso transforma o jovem num símbolo de resistência para inúmeras pessoas. Christopher dá igualmente início a uma aventura que mais tarde viria a encher as páginas dos jornais e que termina com a sua morte no Alasca.

O que significa viver? E vivendo, quais os tipos de escolhas que somos capazes de fazer? Escolher sonhos plastificados, divididos em 16 prestações ou pelo cartão de crédito, empacotados e entregues em casa (que, de fato, não se trata bem de escolha, mas de seguir o padrão) ou encarar o mundo sem dinheiro, sem documento, sem identidade pré-fabricada, na tentativa de entender o que representa a vida para além da mediocridade enlatada e cheirosa das vitrines das lojas e das fachadas das casas? A resposta, claro, já se encontra na pergunta e é disso que trata o filme "Na natureza selvagem". De certa forma "Na natureza selvagem" é um convite à reflexão sobre o significado que assumem tantas coisas que vivemos, queremos e pelas quais muitas vezes sofremos. Alguns podem achar que se trata da história de alguém doente, um louco, um maluco com transtornos de personalidade. Mas ao agirmos assim caímos na armadilha do filme, qual seja, ele é uma crítica a vida moderna, essa mesma vida que possui a mania de diagnosticar e patologisar tudo o que não se enquadra ao padrão corrente da sociedade de consumo e nos mostra uma imagem na qual ficamos pensando se, ao contrário, o louco não somos nós que vivemos vidinhas plastificadas.


Abaixo a música "Guaranteed", de Eddie Vedder, que faz parte da trilha sonora do filme.





Com certeza

Suplicar de joelhos não é o caminho para ser livre
Levantando uma taça vazia, eu pergunto silenciosamente:
Todas as minhas escolhas serão aceitas por uma única pessoa, ou seja, eu?
Então, eu posso respirar...

Eles aumentam os círculos e engolem as pessoas completamente
Passam metade de suas vidas dizendo "boa noite" às esposas que nunca conhecerão
Uma mente cheia de perguntas e um professor em minha alma.
E assim vai...

Não se aproxime ou eu terei de ir
Tal como a gravidade são esses lugares que me puxam
Se existisse alguém que pudesse me manter em casa
Esse alguém seria você...

Todos que encontro pelo caminho, em suas gaiolas compradas,
Possuem opiniões sobre mim e meus devaneios, mas eu não me importo com o que eles pensam, eu sou o que eles nunca pensaram.
Eu tenho minhas indignações, mas sou puro em todos os meus pensamentos.
Eu estou vivo...

Vento em meus cabelos, me sinto parte de todos os lugares.
Por trás da minha existência há uma estrada que está desaparecendo
Tarde da noite eu ouço as arvores, elas estão cantando com os mortos
A carga é pesada...

Deixe isso comigo, assim encontrarei uma maneira de ser.
Considere-me um satélite, sempre em órbita.
Eu conheci todas as regras, mas as regras não me conhecem.
Com certeza...



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