04/12/2011

Lição Schopenhauereana

É preferível a solidão a companhia dos idiotas.

É duro lidar com pessoas que não entendem o valor da conquista e preferem a humilhação do suplicar por migalhas.

Há alunos que os professores passam porque são bons alunos, outros por uma razão bem simples, são ruins demais.

A cola do aluno sempre é vantajosa para o professor, ela sempre o ajuda a se livrar de um idiota.


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28/11/2011

Interpretação e julgamento (II)


A questão é bem clara e dispensa maiores comentários. As pessoas que produzem julgamentos a respeito daquilo ou daqueles que não entendem estão na realidade preocupadas em chamar a atenção para serem elas mesmas julgadas (ou interpretadas(?)), porque sem isto, restaria apenas a desgraça de permanecerem medíocres e o que é pior, imperceptíveis!

 Nataly

23/11/2011

Interpretação e julgamento

Perguntaram-me: você não se preocupa com o que os outros pensam a seu respeito? Disse que não, pois a opinião da maioria das pessoas a meu respeito é baseada em senso comum, ou seja, é construída a partir de informações do mundo limitado e medíocre em que vivem. Na verdade, são elas que deveriam se preocupar com o que eu penso a respeito delas. Enquanto elas simplesmente me julgam, eu as interpreto com lentes das teorias que me ajudam a entender o mundo.

Alexsandro

Risos mediocres e adiposos

As pessoas querem ser enganadas. Ou, no dizer de Schopenhauer: "Quanto menos inteligente um homem (ou mulher) é, menos misteriosa lhe parece a existência".

Imitando novamente Schopenhauer: sai de tua ignorância, amigo e amiga, acorda, pois "a soma de barulho que uma pessoa pode suportar (ou provocar) está na razão inversa de sua capacidade mental" e esses risos envenedado de ressentimentos pela vida não te farão uma pessoa melhor.


Alexsandro

20/11/2011

Como um morango podre para a torta


Sempre sou questionado sobre minha trajetória acadêmica e como observo o universo universitário e escolar. Bem, por onde começa? Vejamos...
Infelizmente a maioria dos frequentadores (chamo de frequentadores porque muitos não são mais do que isso) das salas de aulas não faz a menor ideia do papel social que os tocam. Não tenho certeza, mas parto do pressuposto que para que alguém possa ser chamado de acadêmico alguns predicados essa pessoa deveria apresentar:

1. Certo esclarecimento e consciência a respeito do papel social do curso que pretendeu fazer;
2. Um pouco de disciplina monástica para ser gasta em sala e nos seus estudos extraclasse;
3. Interesse por aquilo que decidiu aprender, afinal ele decidiu aprender algo sobre algo;
4. Esclarecimento sobre o universo profissional do qual pretende fazer parte, e;
5. Paciência.

Infelizmente, viver tudo isso não é para todos. Muitos são idiotas "eletronizados", cujo cérebro ficou emergido durante algum tempo em uma panela com vinagre. Uma pandilha de gente sem um pingo de educação que tratam a aula como balada regada a música ruim.
Não, muitos não são pessoas ruins, pelo contrário. Mas são engolidos pelo hálito fedorento da mediocridade que exala um tsunami de babaquices que inunda de barulho o universo que deveria ressoar com ecos de ciências e filosofias.
Criatividade, maluquice genial, rebeldia ativa, força de vida que provoca vontade de pensar o diferente ou o que ai está? Não, nada disso é visível entre os frequentadores. Só dor, afinal eles frequentam a dor - frequentador(es). Muitos nem sabem, mas estão construindo para si um fim que só pode ser melancólico: passar o resta da vida falando mal do curso que frequentaram, com o agravante de não saberem do que estão falando.
Algumas vezes quando a coisa começa a funcionar, chega o morango podre da torta. Estão mais preocupados em bater papo em voz alta e mandar mensagens via celular do que ouvir o que está sendo discutido na sala. O pior é que tem gente que acha que é bonito ser idiota. Pena que não exista um programa tipo fotoshop para cérebros. Eu sei que é feio chutar cachorro morto, mas existem coisas que são indefensáveis e um pouco de honestidade intelectual faz muita falta.
Do lado dos professores há muitos que parecem que foram alimentados com suquinho de merda e bolacha de dejetos radioativos. Fazem das aulas um teatro para piadas que só servem para matar o tempo e frases de autoajuda que não deveriam ser pronunciadas no espaço na academia, a não ser que fossem para serem ridicularizadas.
A conclusão? Qualquer um que tenha esperança em um futuro grandioso para humanidade é porque nunca frequentou uma sala de aula, se o fizesse cortaria os pulsos com uma faca de açougueiro suja de sangue de boi. O espírito intelectual de muitos frequentadores é tão cheio de vontade de vida quanto um cadáver de frango rodando em um forno.

05/11/2011

Fui entender isso já adulto


Eu nasci para ser celular
Eu sou em essência calça jeans
Minhas pernas são eletrônicas
Meu sangue coca-cola
Vivo em fios de etiquetas
Sonho em caixas de sapatos

Sou matéria morta de homem

Alexsandro

16/10/2011

Foucault, a interdição e a identidade

O medo de sermos deslocados em nossas frágeis e débeis certezas nos faz querer de volta a verdade fascista que nos assombrou ontem.



No primeiro parágrafo de seu texto “A ordem do discurso”, Michel Foucault diz algo que me é surpreendente:
No discurso que hoje eu devo fazer, e nos que aqui terei de fazer, durante anos talvez, gostaria de neles poder entrar sem se dar por isso. Em vez de tomar a palavra, gostaria de estar à sua mercê e de ser levado muito para lá de todo o começo possível. Preferiria dar-me conta de que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia desde há muito: bastar-me-ia assim deixá-la ir, prosseguir a frase, alojar-me, sem que ninguém se apercebesse, nos seus interstícios, como se ela me tivesse acenado, ao manter-se, um instante, em suspenso. Assim não haveria começo; e em vez de ser aquele de onde o discurso sai, estaria antes no acaso do seu curso, uma pequena lacuna, o ponto do seu possível desaparecimento.

Leio esta parte como uma demonstração de lucidez e clareza quanto à posição que ele próprio ocupa na ordem dos discursos: sabe que ele não é o começo e nem o fim de algo, e que o fato de ser ele a falar não é fruto senão do acaso.
Em seguida nos fala do peso da instituição, de sua ironia, das solenidades, das formas ritualizadas. Da obrigação de ter de falar, de ter de responder, de ter que ser o que fala. Mas como falar daquilo que não se tem certeza? Ou como assumir um lugar no discurso, ser aquele de onde o discurso sai quando a vontade seria não ter de começar, sem ter que falar por aquele que se encontra do lado de fora, destituindo dele a singularidade, o que pode ter de temível ou maléfico?
Mais um pouco e ele simula um dialogo entre o desejo e a instituição:
O desejo diz: "Eu, eu não queria ser obrigado a entrar nessa ordem incerta do discurso; não queria ter nada que ver com ele naquilo que tem de peremptório e de decisivo; queria que ele estivesse muito próximo de mim como uma transparência calma, profunda, indefinidamente aberta, e que os outros respondessem à minha expectativa, e que as verdades, uma de cada vez, se erguessem; bastaria apenas deixar-me levar, nele e por ele, como um barco à deriva, feliz."
E a instituição responde: "Tu não deves ter receio em começar; estamos aqui para te fazer ver que o discurso está na ordem das leis; que sempre vigiamos o seu aparecimento; que lhe concedemos um lugar, que o honra, mas que o desarma; e se ele tem algum poder, é de nós, e de nós apenas, que o recebe."

Mais um parágrafo:
Mas talvez esta instituição e este desejo não sejam mais do que duas réplicas a uma mesma inquietação: inquietação face àquilo que o discurso é na sua realidade material de coisa pronunciada ou escrita; inquietação face a essa existência transitória destinada sem dúvida a apagar-se, mas segundo uma duração que não nos pertence; inquietação por sentir nessa atividade, quotidiana e banal porém, poderes e perigos que sequer adivinhamos; inquietação de supor lutas, vitórias, ferimentos, dominações, servidões, através de tantas palavras em cujo uso há muito se reduziram as asperidade.

Dentro de um esquema eu leria assim: as inquietações do desejo e da instituição frente ao discurso que se pronuncia derivam de quatro situações:

1. “aquilo que o discurso é na sua realidade material de coisa pronunciada ou escrita“;
Transcreveria para uma interrogação: o que o discurso é na sua realidade material de coisa pronunciada ou escrita? Oferecendo a seguinte resposta: ele pode ser algo sobre o qual não temos controle, sobre o qual não sabemos ao certo o que enuncia e que essas incertezas fazem dele algo extremamente delicado já que pode nos levar para lugares e situações para os quais não estávamos preparado ou que não esperávamos encontrar.

2. “existência transitória destinada sem dúvida a apagar-se, mas segundo uma duração que não nos pertence”;
O discurso é temporal e enquanto tal tem um tempo de vida, não é eterno, sumirá. Sem data de validade, ele existe no tempo, sem tempo previsto para durar ele se desenrola.

3. uma atividade quotidiana e banal que pode conter poderes e perigos que sequer adivinhamos;
O que o discurso esconde, o que ele mostra, o que ela faz parar, o que ele move, que caminho segue, que caminho destrói, quem faz falar, quem faz calar, o que cria de novo, o que recria, o peso que adquire ao ser somado a outro discurso, os sentidos que move, os sentidos que combate, as perspectivas que apresenta, etc.

4. “inquietação de supor lutas, vitórias, ferimentos, dominações, servidões, através de tantas palavras em cujo uso há muito se reduziram as asperidades”.
A mudança dos significados das palavras e, na sua seqüência, das lutas. Lutas que foram travadas, mas cujos significados se perderem ou que hoje lemos na contramão do que ela de fato significou. Vitórias que no decorrer do tempo transmutaram seu objetivo primeiro e aquilo que foi conquista em um momento mostrou-se como derrota em outro. Enfim, ninguém pode prever o destino de um discurso: em um momento ele pode ser libertador, noutro pode ser fascista. Não há discurso neutro, não há como determinar de que lado ele estará no decorrer do tempo.
E Foucault termina esta parte do seu texto fazendo a seguinte pergunta:
Mas o que há assim de tão perigoso por as pessoas falarem, qual o perigo dos discursos se multiplicarem indefinidamente? Onde é que está o perigo?

Antes de seguir com Foucault vou abrir uma pequena brecha para citar um exemplo que espero poder ilustrar o que disse acima.
Em muitos momentos do século XX os filmes pornográficos estavam ligados não apenas às práticas libidinosas como também às criticas a repressão, sobretudo a repressão da própria libido como expoente de uma repressão geral da sociedade. Larry Flint foi um dos personagens símbolo dessa postura anarco-porno dos anos de 1970. Em muitos dos seus roteiros, por trás de muita sacanagem sexual, existiam também sacanagens políticas. Enrabar uma loira peituda, o grande símbolo da cultura americana, era um ato simbólico de enrabar os Estados Unidos. Estávamos em meio à guerra fria. Mas, como todos sabem, os Estados Unidos venceram a guerra. E a grande imagem dessa vitória, que é também uma vitória do capitalismo, é a queda do muro de Berlin. No campo da sexualidade, o equivalente pornográfico da hegemonia capitalista e americana é a queda dos pêlos pubianos. Tais quedas representaram o avanço da hegemonia americana e capitalista sobre as práticas políticas cotidianos. Assim como a queda do muro de Berlin representou um golpe nas utopias políticas do século XX, a queda dos pêlos pubianos aparece como o novo símbolo desse controle sobre o corpo e suas práticas.
Se nos anos de 1950 os filmes com a “família feliz” era o sonho dourado que saia dos cinemas e invadia os projetos pessoais, hoje percebemos que os filmes pornôs deixaram de ser lixo cinematográfico e viraram referências para muitas das práticas cotidianas. É curioso perceber que sua influência vai desde seios siliconados, pêlos depilados, práticas, posturas e posições sexuais, até a invasão do imagético cotidiano de todos em termos de relações (afetivas e sexuais) possíveis.

Voltemos então a pergunta de Foucault;
Mas o que há assim de tão perigoso por as pessoas falarem, qual o perigo dos discursos se multiplicarem indefinidamente? Onde é que está o perigo?

No decorrer de sua exposição ele apresenta a hipótese que, segundo ele próprio, era a hipótese que naquele momento norteava seu trabalho:
“suponho que em toda a sociedade a produção do discurso é simultaneamente controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo número de procedimentos que têm por papel exorcizar-lhe os poderes e os perigos, refrear-lhe o acontecimento aleatório, disfarçar a sua pesada, temível materialidade.”

Em seguida temos:
É claro que sabemos, numa sociedade como a nossa, da existência de procedimentos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar também, é o interdito. Temos consciência de que não temos o direito de dizer o que nos apetece, que não podemos falar de tudo em qualquer circunstância, que quem quer que seja, finalmente, não pode falar do que quer que seja. Tabu do objeto, ritual da circunstância, direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala: jogo de três tipos de interditos que se cruzam, que se reforçam ou que se compensam, formando uma grelha complexa que está sempre a modificar-se. Basta-me referir que, nos dias que correm, as regiões onde a grelha mais se aperta, onde os buracos negros se multiplicam, são as regiões da sexualidade e as da política: longe de ser um elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a política se pacifica, é como se o discurso fosse um dos lugares onde estas regiões exercem, de maneira privilegiada, algumas dos seus mais temíveis poderes. Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso — como a psicanálise nos mostrou —, não é simplesmente o que manifesta (ou esconde) o desejo; é também aquilo que é objeto do desejo; e visto que — e isso a história desde sempre o ensinou — o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas é aquilo pelo qual e com o qual se luta, é o próprio poder de que procuramos nos apoderar

Para aqueles que se consideram donos de um de um saber hermético, ostentadores de um saber(-poder), o perigo da multiplicidade dos discursos se encontra no fato dela diluir o poder dos discursos. Não seria um deslocamento ininterrupto do poder e sua posterior ridicularização a melhor maneira de combatê-lo? Contra todos os centros, nos encaminhemos para as bordas; contra toda a coerência, sejamos contraditórios; contra a normalidade, festejemos a anormalidade.
Mas antes que eu esqueça de perguntar: sobre o que falamos e qual o propósito daquilo que falamos? Ou ainda, pelo que lutamos? Se é que lutamos por alguma coisa.
O que se encontra em jogo aqui são as formas de lutas e os lutadores, quem captura e quem é capturado. Vejo na multiplicidade uma possibilidade (não garantida, claro) de confundirmos os lados da luta, de embaralharmos o baralho e deixarmos as cartas na imanência dos acontecimentos (pois não foi isso que sempre aconteceu?). Não seria mais estratégico nos colocarmos, ao menos provisoriamente e como um gatuno dos discursos, para além da dicotomia natureza/cultura e mergulharmos dentro da vastidão de possibilidades que as formas de ser e viver pode tomar? E o campo da sexualidade é uma dessas possibilidades, ou não?
Eu entendo que toda e qualquer forma de sexualidade é um agenciamento. Todas as formas de experiências corporais experimentadas por homens e mulheres foram sempre vividas dentro de um campo de agenciamento da sexualidade. Afinal, quando que homens e mulheres foram simplesmente machos e fêmeas?
Recorre-se ao conceito de natureza para se justificar uma essência sexual perdida, não sei se seguindo por esta linha de raciocínio consigamos avançar no entendimento do que se passa atualmente no campo da sexualidade.
Em termos teóricos, gosto do conceito de territorialização definido por Guattari e Deleuze, que, entre outros aspectos, entende a noção de território como produto de um processo de subjetivação, fruto de “dobras”, dos agenciamentos dos fluxos, dos movimentos de imagem, de som, de palavras, de matérias, de sentimentos que caíram nas malhas de um poder. Neste sentido, não seria prudente nos perguntarmos se a nossa noção de natureza não seria ela já um desses agenciamentos funcionando como um dispositivo de poder? Vejo que muito se fala dela, a natureza, como uma categoria fixa, um território desde sempre constituído, como se houvesse um dentro e um fora, como se houvesse, ou tivesse havido, um momento radiante da natureza e do qual fizemos parte. Não sei e espero está enganado, mas isso me cheira a nostalgia do paraíso perdido, a velha busca religiosa para encontrar o caminho de volta aos braços do pai ou da mãe divinos. Ou ainda o velho discurso sobre a existência do “ópio do povo” figurado em diversos elementos alienantes da realidade, como se houvesse uma “realidade real” e uma “realidade falsa”. Matrix é encantador como peça de arte cinematográfica, mas não existe uma saída da “realidade falsa” e em seguida uma entrada ou volta a uma “realidade real”. Nunca saímos da realidade na qual nos encontramos, podemos sim, estarmos vivendo níveis diferentes de um momento ou época, mas não há um tal “ópio do povo”, ou seja, um momento ou situação no qual nos alienamos para em seguida deixarmos de ser e voltarmos a lucidez da realidade, de fato, a coisa é bem mais complicada: a realidade é o próprio ópio.
Gosto muita dessa fala do Foucault a respeito da noção de identidade e é com ela que termino:
A identidade é apenas um jogo (não um fato determinado), apenas um procedimento para favorecer relações, relações sociais e as relações de prazer sexual que criem novas amizades, então ela é útil. Mas se a identidade se torna o problema mais importante da existência (sexual ou qualquer outra), se as pessoas pensam que elas devem “desvendar” sua “identidade própria” e que esta identidade deva tornar-se a lei, o princípio, o código de sua existência (eu sou assim, sempre fui assim, nasci assim, assim serei para todo sempre), se a questão que se coloca continuamente é: “Isso está de acordo com minha identidade?” (com aquilo que eu sou), então eu penso que fizeram um retorno a uma forma de ética muito próxima à da heterossexualidade tradicional. Se devemos nos posicionar em relação à questão da identidade, temos que partir do fato de que somos seres únicos. Mas as relações que devemos estabelecer conosco mesmos não são relações de identidade (no sentido de já estarem determinada de forma definitiva para todo sempre), elas devem ser antes relações de diferenciação, de criação, de inovação. É muito chato ser sempre o mesmo. Nós não devemos excluir a identidade se é pelo viés desta identidade que as pessoas encontram seu prazer, mas não devemos considerar essa identidade como uma regra ética universal. (Existe sempre a possibilidade de ser outro, de me transformar em outro).


Alexsandro

14/09/2011

Pense ai e depois você responde

Foi-me deixada uma questão nos comentário por alguém que postou como anônimo. Só gostaria de deixar claro que o Fronteira Aberta não é voltado para propaganda do ateismo. Tanto que se alguém desejar verificar verá que falo de muitos temas por aqui. Claro que no meio de tantas coisas temáticas religiosas aparecem e eu não fujo delas.

Entre outras coisas o comentário dizia que Deus, na sua sabedoria, vai me julgar.  Quanto ao que foi questionado, segue abaixo uma resposta possível sobre os critérios de Deus para julgar alguém.

Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, é cheio de passagens que merecem boas reflexões e questionamentos. Mas não é meu propósito entrar no debate. Gostaria apenas de apontar para uma questão, que vai ficar em forma de pergunta.

Em Gênesis 3 lemos:
Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,
Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela ...... (E por ai segue todo relato)


A questão é:
Como poderia um Deus justo castigá-los por algo que fizeram antes de terem o conhecimento acerca do bem e do mal. O ato de comer da fruta proibida acontece antes deles terem consciência do que representava o bem e mal. Mesmo que o argumento seja o de que Deus lhes tinha dito o que fazer, até o momento antes de comer da fruta Adão e Eva não possuíam uma consciência clara a respeito do que representava uma proibição. Tal consciência só é possível quando temos claro o que é o certo e o errado e quando sabemos de qual lado fica o bem e de qual lado fica o mal. Assim, como poderiam eles serem responsabilizados por seus atos antes de terem o conhecimento básico do certo e do errado?

06/09/2011

Alvo certo - aos amargos

As pessoas que não suportam a vida são um perigo. Por isso adoram as regras, usam estas como defesa contra a imanência da vida e as explosões da diferença, do diferente. Elas são um risco para os outros, para a sociedade. Levam consigo um espectro de escuridão e sombra, violência e dor, não amam nada. São avessas da alegria e da liberdade. Infelizmente por conta das situações sociais somos obrigados a partilhar interações com elas, elas que reduzem tudo a nada sob pretextos mesquinhos.
Decepcionadas que são desde sempre com os sabores do amor e do sexo, o que resta nelas da natureza afetiva e erótica não vivida é nada mais que um bagaço podre de amargura.

Alexsandro

05/09/2011

Quem age por hábito, não faz escolhas.


Vivemos um tempo de escolhas. Precisamos escolher. Entre escolhas possíveis, precisamos escolher uma. A nossa forma de escolha exige julgamento, avaliação: é a tomada de decisão. Quem age por hábito, não faz escolhas.

10 notas antipatrióticas ou por uma vida para além da Pátria e do Estado

Nota 1
Todo patriotismo é coisa inventada e imposta.


Nota 2
Onde há Estado a noção de Pátria se faz necessário. A construção da lealdade ao Estado passa pela construção da obediência patriótica. Tudo aquilo que é usado para definir a pátria, o espírito patriótico, é usado para assegurar a permanência do Estado. A Pátria compartilhada legitima a unificação política do Estado. É sobre a bandeira da Pátria que o Estado é defendido.


Nota 3
Um Estado, um sentimento patriótico – o estabelecimento de um padrão de sentimentos que devem ser vividos e experimentados. Os traços culturais são usados para construir a noção de Pátria.
A construção do conceito de Pátria passa pela eliminação da alteridade. Pátria é uma noção reacionária. O discurso patriótico é coercitivo. Se não se tiver pela Pátria um amor fiel corre-se o risco do estigma, da exclusão, de ser considerado um herege.


Nota 4
Patriocentrismo - o fenômeno que coloca a pátria como centro do universo, uma derivação do etnocentrismo e sociocentrismo.
O etnocentrismo alimenta as mais diversas formas de preconceitos, racismos, fanatismos, xenofobias. Um de seus maiores problema se encontra na desqualificação do outro. O etnocentrismo é uma característica comum a diversas sociedades. Seu limite se encontra na percepção do outro, mais especificamente na ignorância, no desconhecimento do que o outro de fato representa e da importância do outro enquanto outro.
O patriocentrismo possui um traço comum com o etnocentrismo: uma atitude de superioridade frente a outras sociedades e culturas a partir de uma percepção auto-referencial - os membros de uma sociedade percebem-se não apenas diferente, mas superiores.
Um outro problema é quando se começa a considerar como únicos possíveis os pontos de vista dado pela visão patriótica. Internamente ao Estado tal noção dominante e tida como superior pode levar a não aceitação das discordâncias e a censura destas. Tal visão é absorvida pelo sujeito que passa a considerar esta visão como estando ligada a sua situação e as suas atividades próprias. Cria-se um estado de espírito no qual o sujeito deixa de compreender sua própria situação e passa a compreender tudo pela visão da pátria e do Estado. Ele só compreende a pátria na perspectiva dela mesma. Tanto elementos afetivos quantos intelectuais estão em jogo. O sujeito perde a sua singularidade em prol de uma identificação com elementos que lhes são exteriores e estranhos. Não compreende que muito daquilo que ele venera foi construído em momentos que lhes são totalmente distantes, tanto no tempo quanto no espaço, e em circunstâncias das quais ele desconhece e que não teve nenhuma participação. – um exemplo são os símbolos patrióticos.


Nota 5
O que alimenta tal atitude patriótica é a incapacidade de compreender a complexa trama de elementos que envolvem a construção do seu conteúdo e do seu funcionamento. Havendo, por conseguinte, uma redução dos seus elementos componentes dentro de uma elaboração de visão de mundo extremamente centrada em um conteúdo moral a incapacidade de compreender e de conceber a pátria como uma invenção, como uma construção, pode levar a geração de um conteúdo moral que busca evitar qualquer esforço reflexivo, qualquer analise sobre as implicações de se viver sob um regime patriótico. Esse conteúdo moral pode chegar às raias da crueldade, da brutalidade, do totalitarismo e do fascismo. Tal conteúdo moral quase sempre desqualifica os esforços do pensamento criterioso e analítico. Assim, a incapacidade de autocrítica somada a condenação a qualquer tipo de crítica fazem do patriocentrismo uma atitude arrogante, fundado em idéias preconcebidas que constrói seus discursos tendo por base pressupostos arbitrários, caprichosos e injustos.
Tais comportamentos morais e afetivos que definem e caracterizam o afeto patriótico são de extrema relevância para compreensão de como se constroem os instrumento de sedimentação dos sujeitos em um Estado, ao Estado, sobretudo para compreensão dos estudos sobre os estados de ânimos sociais, agitações ou controle dessas agitações. Assim, a noção de Pátria serve como tensor que se estende entre o Estado e os sujeitos.


Nota 6
Tal sentimento de Pátria não é algo inerente aos indivíduos, esta noção delineia-se a partir do processo de socialização, do processo de descoberta do ambiente cultural no qual o individuo encontra-se inserido. Entretanto, não há garantias de que tal sentimento venha a ser vivido com toda fidelidade. Para que tal fidelidade venha se estabelecer todo um processo de (des)construção da imagem de si e, sobretudo da imagem do outro, deve acontecer.
O homem da pátria acredita saber diferenciar o justo do injusto, o bem do mal. Ele procura respeitar as instituições e exige que os outros façam o mesmo, ele é um soldado sem farda. Ele se crer fazendo sua parte para manutenção da lei, da ordem e da paz social; ele também se ver como um homem trabalhador e honesto, que oferece a sua força de trabalho para o desenvolvimento e futuro do seu país; acredita na ascensão social, que se fizer sua parte para o bom funcionamento da pátria há de prosperar junto com ela. Daí que o patriota alimento sua capacidade de julgamento sempre na mesma direção: tudo aquilo que for diferente do seu ponto de vista deve ser condenado; tudo aquilo que não girar em torno das suas convicções é uma oposição que deve ser excomungada; tudo aquilo que for diferente é uma ameaça em potencial à conservação e manutenção da sociedade. Ele identifica aquilo que é a pátria com aquilo que é "bom" para todos, independentemente de quem se trata – a vida é a pátria, homens e mulheres são a pátria, o social é a pátria; e tudo que assim não for dever ser renegado.


Nota 7
A pátria não é um acontecimento natural. É algo que possui uma temporalidade, que pode ser datada em termos do seu nascimento e morte. Os traços geográficos que a delineia foram rabiscados pelo desenrolar das tramas históricas, na maioria das vezes produto de lutas e mesquinharias. Imagens, falas, sentimentos, expressões de vidas, línguas, corpos, sensações, vegetações, animais, paisagens, foram juntados, costurados, colados na especificidade e particularidade de um momento, a eles se juntaram discursos, sentidos foram criados, passando a afetar uma cosmovisão. A pátria é uma produção, não do seu povo, mas, das relações de poder a ela subjacentes. O povo foi uma de suas capturas. Ele é um de seus reféns. Assim como o é a natureza, as crenças, os valores e todos os produtos culturais nascidos das relações entre os sujeitos.
Quem olha do presente para o passado é levado a acreditar que a pátria é fruto de um processo coerente e ordenado, que ela é o produto final e glorioso de sua própria evolução. Somos levados a esquecer que as inúmeras práticas vividas e discursos pronunciados em termos patrióticos assim o foram na dispersão do tempo e do espaço, enfim, o ajuntamento das práticas e dos discursos que dão forma a pátria não são frutos de um acontecimento lógico, controlado, calculado ou previsível.
O surgimento da pátria é fruto do silenciamento de uma multiplicidade de vozes, do apagamento de uma multiplicidade de imagens e práticas. Vozes e praticas que foram recortadas em seus múltiplos dizeres e fazeres, que foram selecionadas e moduladas para que, em seguida, fossem reapropriadas para servirem ao propósito “maior”: elementos constituintes de uma pátria-mãe. É por conta disto que devemos questionar sobre como foi e como é possível uma pátria, a que preço ela se tornou e se torna possível.


Nota 8
A idéia de pátria como algo natural ou desde sempre ai acaba por encobrir o fato de ser ela um produto político e que enquanto tal deve ser compreendida. Apoderando-se de símbolos, de fatos e de expressões a pátria vai reagir e funcionar a partir de uma totalidade maior: o Estado-nação. Movendo-se dentro deste espaço nacional, delimitado por suas fronteiras, descobrimos assim um jogo entre o artificial e o artifício: se o Estado é artificial, a Pátria é um artifício deste. (Pensemos o artificial como sendo um produto de uma época, fruto de circunstâncias de época.)
O discurso patriótico é meta-histórico na medida em que faz uso de significações teleológicas que partem de um passado redentor a um futuro promissor.
Onde devemos procurar a origem da pátria? No emaranhado dos artifícios que dão forma ao seu discurso. Pátria não possui essência. A identidade que ela faz nascer é artificial, como qualquer identidade, como qualquer processo de identificação.
O desmonte da noção de Estado é correlato ao desmonte da noção de Pátria. Questionar o Estado só faz sentido se questionarmos a noção de Pátria.


Nota 9
Haveria em nós um instinto de idolatria? É provável. Para dar vida aos nossos interesses projetamos sobre a face da terra os nossos sonhos, forjamos o tempo e nele inserimos a história, nossa história ou aquilo que consideramos como nossa história. Nela mesma, toda terra é neutra, suas fronteiras são acidentes geográficos, os contornos que traça não visa determinar estados morais. Mas o homem estabeleceu sobre ela determinações estranhas à natureza e às forças que a anima. Assim, como idolatras, passamos a adorar os objetos ridículos da nossa própria criação. É interessante constatar que entre a ficção e a evidência todo entusiasmo do homem recai sobre a primeira. Se há uma fonte sobre a terra de onde jorra o mal, ela não é outra se não esta capacidade de ficcionar e de levar a ficção às últimas conseqüências, dar às ficções humanas um caráter de absoluto. A pátria se soma a tantas outras ficções que idolatramos e a tantos outros falsos absolutos.
Não há noção de pátria que não traga uma dose exagerada de idolatrias, doutrinas e farsas. Todo ato de adoração à pátria é um ato de adoração aos crimes que foram cometidos para que esta aparecesse e se mantivesse. Quem ama uma pátria faz de tudo para que outros também a amem. Não há fervor patriótico sem uma quantidade considerável de intolerância, fé cega, intransigência ou proselitismo.
A pátria é uma assassina em potencial. Há na história humana dois motivos pelos quais mais se matou ou se morreu: por um deus ou por uma pátria. Devoção fervorosa e sangue. Gemidos e hinos. Fé religiosa e devoção patriótica se igualam no número de vítimas que fizeram. Os mais violentos crimes foram e são cometidos em nome de uma ortodoxia, religiosa ou política, não importa.
Daí o patriota ser um fanático fervoroso. E por ser assim, ele é um perigo. Os melhores e mais eficazes assassinos pode ser encontrados entre os patriotas e fanáticos: morrem e matam em nome de uma crença, de uma ficção.
A pátria é um conjunto de signos: honrar uma pátria, fazer guerras por uma pátria. Não perceber que por causa dela a vida deixa criar, que o sangue que ela faz correr, o sangue que ela exige, em nome de "proteção", é o mesmo sangue que poderia está sendo dirigido para uma vida mais cheia de possibilidades.


Nota 10
A pátria se consagra em um despotismo dos princípios: ela se coloca como sendo e tendo o ideal correto a ser seguindo; ela consagrou o futuro como um alojamento de bem-aventuranças para aqueles que a legitimam; ela faz parecer que a segurança reside por detrás de seus muros. A pátria se quer no plural: ‘Nós’. E nesse ‘Nós’ ecoa uma forma de fascismo. Dentro dela as instituições visam gerenciar a boa conduta, o porte correto, a regulamentação das opções. Ela quer ser percebida como o paraíso, ela concorre com o paraíso celestial. Artesã de espíritos ardentes, não perdoa aqueles que vivem sem as suas verdades. Um sujeito desprovido da crença patriótica é um ser estranho à pátria. Ela demanda certezas, impõe convicções, elimina as dúvidas e os duvidosos.
As convicções patrióticas se estabelecem como forças dominadoras - debaixo de sua bandeira se esconde uma arma.


Alexsandro

25/08/2011

O mundo que merecemos

Não importa a qual tema se aplique, a maioria de nós somos um desastre. Caindo no mau gosto da generalização, arrisco dizer que emocionalmente nossa sociedade é por demais infantil. Não somos muito afeito as responsabilidades, não queremos nos comprometer com nada mais do que nossas picuinhas. Queremos aquilo que é cômodo, mesmo que não saibamos o que isso significa. Reina uma espécie de letargia: esperamos milagres ou soluções mágicas vindas sabe-se lá de onde. Culpamos os "outros" ou "eles" pelos os infortúnios da vida. O mal vem sempre do outro lado. Esperamos que "alguém" resolva aquilo que caberia a nós resolver.
É duro ter que constatar, mas temos a nossa volta o mundo que merecemos. Pois se não fizemos o mundo que ai se encontra, pelo menos permitimos que ele continue do jeito que encontramos, e as vezes, até pior.


Alexsandro

Só vejo cadáveres diante de mim

Como é lamentável ver quanta gente é nada mais que um grande caixão carregando verdades mortas. Vidas em ruína que não percebem a arbitrariedade dos fatos humanos, mas que teimam em afirmar uma posição diante do mundo como se fossem verdadeiros bastiões da lucidez. Uma lucidez cadavérica, tola, embriagada de superstições, preconceitos e desinformação. São sombras que não atualizaram o espírito. Crêem-se imortais, eternas, mas são de fato estrangeiras do seu tempo, refugiadas de si mesmo, em um campo de concentração de verdades que extirpou suas idiossincrasias. Sem lucidez, não sabem do seu tempo, não sabem de si, não sabem da vida. São fascistas errantes, sem singularidade, sem tempo, sem propósito próprio, que buscam reconhecimento dos seus pares, nulidades sem voz e sem sensação, moscas mortas na rede elétrica das certezas efêmeras.
Não se desligam das grandes ilusões. Acham que vão preencher a história com alguma grande realização. Que vão conseguir ultrapassar o grande abismo da idiotice e entrar no reino dos sábios e da lucidez. Acreditam que vão conquistar algo e fazer suas vidas saírem do nada no qual se encontram.
São órfãos que não entenderam a força da arbitrariedade das verdades e das culturas e procuram um pai para a humanidade. Querem verdades adequadas às suas capacidades de compreensão. Querem um fundamento racional diante do caótico. Querem uma vocação metafísica para si e para humanidade. Querem controlar o tempo. Enquanto isso não vêem os grãos da ampulheta caindo sobre cada verdade que já foi um dia fonte de sabedoria e alucinação.


Alexsandro

14/08/2011

Apoio exagerado


Geralmente quando um casal tem problemas entre si o conselho comum é o de que eles devem buscar ser mais solidárias entre si, entretanto, uma série de estudos da Universidade de Iowa mostra que o apoio exagerado ou a forma errada de suporte pode realmente fazer mais mal do que bem.
Estudo recente de casais heterossexuais em seus primeiros anos de casamento verificou que o apoio é muito mais difícil para um casamento que não é satisfatório. Por sua vez, quando se trata de uma relação satisfatória, ambos os parceiros estão mais felizes quando o marido recebe o tipo certo de apoio na hora certa e se a esposa recebe apoio quando de fato precisa.
Os resultados ilustram a necessidade de se entender de várias maneiras as reais necessidades do parceiro e ser seu suporte, bem como a importância de comunicar o que necessitam e quando,
Erika Lawrence, professora de psicologia na Faculdade UI de Artes Liberais e Ciências, diz:
"A idéia de simplesmente ser mais favorável é melhor para o seu casamento é um mito. Muitas vezes os maridos e as esposas pensam: 'Se meu parceiro realmente me conhece e me ama, ele ou ela vai saber que estou chateado e saberá como me ajudar'. No entanto, essa não é a melhor maneira de abordar o casamento. Seu parceiro não deveria ter que ser um leitor de mente. Casais serão mais felizes se eles aprendem a dizer: 'Isto é como eu estou sentindo, e é assim que você pode me ajudar.'"


Para texto da pesquisa: AQUI

Casamento e auto-estima

Um estudo realizado na Universidade Estadual de Nova Iorque (EUA) examinou como a questão da autoestima influência numa relação. Tendo como parâmetro os custos da interdependência e da busca por objetivo autônomo, verificaram-se como os custos de autonomia ativa automaticamente fatores compensatórios aos processos cognitivos que atribuem maior valor ao parceiro. Pesquisadores conduziram testes com jovens recém-casados e observaram que quando uma das partes tem autoestima muito baixa existe a tendência deste se tornar muito dependente e não consegue corresponder às expectativas do cônjuge. Em casos assim o relacionamento começa a se deteriorar já no primeiro ano. O problema se agrava quando o parceiro que possui autoestima baixa começa a tornar o outro cada vez mais responsável por suas próprias necessidades.

13/08/2011

Ou nós ou eu



Estudo revela como o uso desses pronomes podem ser indicador de como anda uma relação


O estudo examinou a relação entre o uso dos pronomes pessoais e a qualidade emocional do casamento. Ou seja, o grau da interação e qualidades emocionais pode ser medido pela forma como cada um ou ambos usam os pronomes.  O estudo monitorou casais de meia-idade e idosos envolvidos em uma discussão de 15 min. Durante o qual a fisiologia e comportamento emocional foram monitorados continuamente. Transcrições integrais das conversas foram codificadas em duas categorias lexicais:
(a) "nós" - pronomes e palavras cujo foco era sobre o casal,
(b) "eu" - pronomes e palavras cujo foco era sobre os cônjuges individuais.
O resultado indicou que o uso de pronomes como “nós” e “nosso” nas discussões tem como conseqüência brigas menos longas e desgastantes (possibilitando uma relação mais tranqüila). Já a presença marcante do uso dos pronomes “eu”, “você”, “meu” e “seu” indicaram um forte sinal de que a relação não ia nada bem.

Homem carinhoso? Quem diria.

Um estudo que procurou examinar a vida sexual e afetiva em relacionamentos de casais de meia-idade e idosos em relacionamentos que variavam entre 1 e 51 anos de duração trouxe a tona algumas conclusões inusitadas. A pesquisa foi realizada em cinco países: Brasil, Alemanha, Japão, Espanha e os EUA e entrevistou cerca de 1.009 casais. Entre as variáveis investigadas buscou-se saber sobre escolaridade, saúde, intimidade física, comportamento sexual, etc. O histórico da vida sexual serviu de referência para medir o grau de felicidade do modelo de relacionamento e a satisfação sexual. Entre outras conclusões do estudo citamos uma que desmistifica a idéia de que são os homens que colocam o sexo em primeiro lugar:
O estudo demonstrou que para os homens o carinho em um relacionamento tem mais importância do que para as mulheres. Para eles a troca de carinho é o sinal de um bom relacionamento, o que não ocorre com as mulheres. Elas, por sua vez, apontaram para a vida sexual como indicador de satisfação no relacionamento.


Para texto da pesquisa: AQUI

10/07/2011

A Ordem e a Diferença

Em um mundo como o nosso, como lidar com os problemas? Violência pelas ruas, fundamentalismo e intolerância racial e/ou religiosa, delinqüências dos mais variados tipos... Uma sensação angustiante de insegurança: as ruas como um campo de batalha (saio, não sei se volto), tráfico, militarismo, epidemias, desemprego, trabalho escravo e outros mais... Em uma sociedade assim, quem não sonha com ordem?
Mas como estabelecer ordem em um mundo recheado de diferenças, em um mundo cheio de interesses no mais das vezes conflitantes? Como conciliar as diferenças? Como estabelecer uma relação com elas? Devemos reconhecer que existem aqueles que se enquadram perfeitamente a certa lógica de funcionamento das coisas, mas que existem também aqueles que não se encaixam a modos de existências impostos por certa conjuntura social. Só esse fato já demonstra a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de se estabelecer uma ordem total valida para todos. Sobretudo se essa ordem significar tornar todos um só, fazendo existir apenas uma forma de compreender o mundo, uma forma de encarar a vida, uma forma de oferecer sentido a vida, com todos acreditando nas mesmas coisas, fazendo as mesmas coisas e sempre do mesmo jeito. Em um mundo que deseja ordem (se é que realmente deseja), o maior empecilho passa a ser a diferença, principalmente a diferença expressada pelo outro, pelos outros. O outro que não compreende o mundo como compreendo, o outro que encara a vida de outra forma, que busca outro sentido para a vida, que acredita em outras coisas, que faz outras coisas de outro jeito.
Em um mundo como o nosso, em uma sociedade como a nossa, as pessoas, as relações, os acontecimentos, as formas de pensamentos, as mentalidades, as expressões culturais não se ajustam com perfeição, não se harmonizam com facilidade, nem tudo se enquadra, nem todos se conformam, abrindo um leque de dificuldades para um equilíbrio e harmonização diante da complexidade existente, qual seja: as diferenças se expressam.
Sonhamos, talvez, com um mundo perfeito, com pessoas perfeitas, uma sociedade da harmonia e da pureza, um paraíso encarnado. A história do homem se encontra cheia de propostas e projetos para a construção de tal sociedade. Propostas e projetos esses que foram levados a cabo em nome da construção de um mundo melhor. O interessante aqui é percebermos que a consolidação de tais propostas e projetos passou sempre pela busca e pelo o estabelecimento de uma ordem. E no estabelecimento da ordem uma questão sempre apareceu: o que fazer com o diferente, com a diferença? A resposta, se levarmos em conta a história das sociedades, foi dada na forma de três maneiras de lidar com a diferença: primeira, acabar com a diferença destruindo-a, matando-a; segunda, transformar a diferença para que ela se torne igual, assim a diferença deixa de existir e a ordem é promovida e, por fim, expurgar a diferença, exilando-a ou impedindo o contato.
O estabelecimento da sociedade soviética no início do século passado, as intenções nazistas, o processo de mundialização da sociedade capitalista através do mercado e tudo que este vem promovendo - guerras, má distribuição de bens, intolerância étnica, religiosa e política, miséria e destruição das culturas nativas e regionais - são maneiras de lidar e tentar destruir, transformar ou distanciar o diferente e as diferenças.
As características do mundo atual e a maneira como nele vivemos, testemunham o quão fragilizado é esse nosso mundo e o quanto nos encontramos fragilizados. Uma fragilidade que nos desnorteia a tal ponto que chegamos a acreditar que sozinho, digo, como indivíduos solitários, daremos conta dos problemas que nos afligem (desemprego, insegurança, condições de vida precárias, etc.), ou que cabe ao setor público resolver problemas individuais e privados, ou ainda, que devemos impor aqueles que são diferentes de nós as soluções que encontramos para vida. É equivocado pensar que as respostas que possuo são suficientes para responder as questões que se apresentam atualmente.  As respostas que possuo, no máximo servem para resolver os meus problemas pessoais (e olhe lá se servem mesmo). Também é um equivoco pensar problemas pessoais como problemas de ordem pública. Sim, a solução para varias questões pessoais passam pela questão coletiva - a segurança e a liberdade individual, por exemplo, só pode ser produto do trabalho coletivo, mas não podemos perder de vista que publico e privado são dois setores diferentes da sociedade. A privatização das soluções e dos meios para se resolver os problemas que dizem respeito à sociedade como um todo está fadado ao fracasso se continuarmos a acreditar que os problemas privados são mais importantes que os problemas coletivos. A solução dos problemas individuais, sim, passa pela solução dos problemas sociais e esses, por sua vez, só podem ser resolvidos coletivamente. Precisamos entender o espaço publico como um espaço social e coletivo, como um espaço político. Precisamos reaver este espaço político, e em seguida precisamos entender que este espaço é um espaço de manifestação das diferenças, dos diferentes. É de suma importância entender este fato.
O desejo de ordem não a constrói. E nesse sentido, negar o diferente e as diferenças, não é a melhor forma de viver o presente e muito menos de encarar o porvir. Negar ao diferente que ele se manifeste é negar a possibilidade à própria vida. O sonho de uma sociedade em ordem não deve passar pela destruição da diferença, por sua assimilação ou pelo seu distanciamento.
Não somos todos iguais e esse fato deve ser compreendido. Com prudência e coragem, precisamos nos colocar a disposição para enfrentar o diferente e a diferenças que se apresentam a cada dia, não para superá-lo ou superá-las, mas para aprender a conviver e quem saber construir uma sociedade que seja expressão de todos.
Precisamos assumir nossos erros e a partir daí criticar e denunciar as formas de pensamento, as crenças, os valores, as formas de vida que concebem as coisas e, sobretudo, a sociedade, negando as diferenças ou vendo nelas uma aberração. Se quisermos fazer uma oposição séria e conseqüente ao mundo que se apresenta, se procuramos uma vida mais digna e verdadeiramente de qualidade, devemos fazer isso de uma maneira totalmente nova. Por que não começar abrindo mão do discurso de poder: de tentar está sempre do lado certo, de acreditar que estamos sempre do lado certo? Não podemos defender com toda fúria posicionamentos que podem destruir a todos nós, que impossibilitam o estabelecimento de qualquer diálogo. Se continuarmos residindo em um sádico desejo de poder, na sádica ilusão de acreditar que estamos sempre certo, se assim agimos, estamos colaborando para que o caos aumente.

Alexsandro

30/06/2011

Jesus e o "traveco"

Usando de liberdade poética segue abaixo uma paráfrase da Bíblia. Mais especificamente do evangelho João, capítulo 8, versículos 1 à 11. Representa uma das passagens mais emblemática da vida de Jesus. Devo esclarecer que a única adaptação que fiz foi trocar a personagem da prostituta por um "travesti".



JESUS, porém, foi para o Monte das Oliveiras.
E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha até ele, e, sentando-se, os ensinava.
Os escribas e fariseus trouxeram-lhe um travesti apanhado que foi chupando o pau de um soldado romano.
E, pondo-o no meio, disseram-lhe: Mestre, este homossexual foi apanhado, no próprio ato.
Na lei, Moisés nos ordena que os tais sejam apedrejados. Tu, pois, que dizes?
Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando ouviram isto, redarguidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e o travesti que estava no meio.
E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que o travesti, disse-lhe: Criança, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
E ele disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.


28/06/2011

Liberdade ou libertação (III)

O fato de vivermos em uma sociedade marcadamente insegura e recheada de incertezas deixa a vida de qualquer um e de todos instável. Incertezas e inseguranças que impõem limites às experiências de homens e mulheres. Uma vida vivida em meio a inseguranças e incertezas diminui ou mesmo tira completamente a capacidade de compreender os limites a que uma vida em sociedade impõe. Tais limites ficam ainda mais difíceis de serem compreendidos quando falta a capacidade de imaginar formas alternativas de vida e de convívio. Capacidade esta que só pode ser trabalhada e aprimorada pelo questionamento. Lembrando que a capacidade de questionamento é a prova de que os membros de uma sociedade estão percebendo os limites desta mesma sociedade e que estão buscando deixá-la melhor, estão buscando o melhor para si e para todos, pois quando questionamos sobre a validade de algo é porque não temos a certeza se aquilo é realmente o que queremos ou se aquilo que já temos é ou não o que realmente queremos continuar tendo. Assim é que podemos afirmar que evitar fazer perguntas, evitar o questionamento ou mesmo não saber questionar é a melhor forma de barrar qualquer processo de ultrapassagem dos limites aos quais estamos submetidos.
Mas, afinal, que processo de libertação buscamos? De saída, não sabemos, nem individualmente nem coletivamente. E é aqui que entra em campo e ganha importância a política como a arte do possível, ou seja, como a arte de construção daquilo que é possível. A situação se torna mais critica quando percebemos que vivemos em um mundo recheado de incertezas e inseguranças. Neste ambiente a finalidade da política deve ser a de mostrar os limites da liberdade ou mesmo a sua impossibilidade ou inexistência, mas capacitando os sujeitos para serem capazes de compreenderem os limites a que estão sujeitos, para em seguida serem capazes de negociarem a que limites estarão dispostos a se sujeitarem, buscando minimizar ao máximo possível aquilo que limita ou impede a vida de se expressar, sobretudo, de forma digna e criativa.


Alexsandro