02/11/2013

Notas femininas

Nota A
Presenciamos mudanças nas formas como nos inserimos no mundo. Nossa forma de entrar no mundo e vive-lo mudou. Assim como o número dos nossos interesses. Desejamos muitas e múltiplas coisas ao mesmo tempo e vindas de todas as direções. Desejamos o que podemos e o que não podemos. Desejamos coisas contraditórias - o doce e o salgado, o caro e o barato, o santo e o demoníaco, a lei e a contravenção. Numa experiência assim não é de estranhar que, por vezes, vamos encontrar pessoas que vão preferir desejar coisas a desejar alguém. É quando o envolvimento com os nossos "sonhos" de realização do consumo, de realização profissional, de realização espiritual, de realização de seja lá o que for se sobrepõem ao exercício da sexualidade, ou, é a sexualidade se realizado por outras vias que não o corpo na cama. Há um direcionamento da libido para outros campos de atuação do sujeito. O prazer sentido ao se fazer “coisas” no mundo é maior e mais satisfatório que o fazer “coisas” na cama.
(Nós, ocidentais, elegemos a cama como espaço de realização da sexualidade)
(Vale salientar que por libido entendemos a energia vital que, entre outras coisas, mobilizar o interesse - nosso interesse por algo ou por alguém. Faz de nós pessoas com interesses e, em contrapartida, nos torna interessante para o outro. Como essa energia vital flui depende de vários fatores: época, sociedade, cultura, economia, formas de subjetividade, etc.)

Nota B
É comum ouvirmos pessoas falando sobre as novidades do nosso tempo, das mudanças nos costumes, sobre como as novas gerações de mulheres estão liberadas de uma série de constrangimentos que suas avós viveram. Ouvimos falar de jovens namoradas liberadas pelos pais para dormirem juntos na casa do namorado, vemos pais dando conselhos sobre preservativos e como se cuidar para não pegar doenças, vemos propagadas sobre gravidez na adolescência e tantas outras abordagens sobre as novas práticas sexuais em voga e que as mulheres podem viver. Mas será que elas estão tão bem quanto dizem? Bem, não é o que parece.
Devemos levar em consideração que a vida sexual é condicionada por inúmeros fatores: o grupo social, as normas culturais e morais que orientam a história de vida de cada um ai dentro, as escolhas afetivas, as práticas sexuais vividas e as expectativas dos papéis sexuais (por exemplo, uma história de vida sexual pobre ou rica, sem graça ou espirituosa, limita ou amplia a visão das possibilidades de prazer de cada um).
E o que vem impedindo a mulher de chegar ao prazer ou de ampliar suas possibilidades de prazer? Ela mesma. Quando se trata do corpo, o saber teórico sem o saber prático é a mesma coisa que coisa alguma. Só informação não serve para muita coisa, é apenas uma informação a mais sobre o assunto. Saber sobre preservativos, anticoncepcionais e preliminares não é saber sobre sexo. É triste constatar, mas sexo ainda é tabu para a maioria das mulheres (e dos homens), e por consequência, das famílias. E o que é pior, dos casais. Um exemplo? Menos de 10% das jovens sentem prazer no início da vida sexual. Motivo: não sabem ou sabem muito pouco sobre as possibilidades do sexo.
É certo que aconteceram mudanças significativas e positivas na vida das mulheres. Mas avanço coletivo não é o mesmo que avanço individual. Coletivamente, por exemplo, é incontestável que as mulheres conseguiram posições na sociedade que, felizmente, as colocam em igualdade com os homens (a educação formal pode ser citada como uma dessas conquistas). Mas... e as conquistas individuais, como ficaram? Se focarmos no sexo, sobretudo no foro individual, veremos que as perspectivas e possibilidades, vivências e experiências seguiram outro caminho. Um exemplo: grande parte das mulheres não sabe conversar sobre sexo com o parceiro – e não importa o tipo de parceiro. Outro exemplo: muitas mulheres fazem uso de algum estimulante, como a bebida, para ficarem tão soltas quanto gostariam. Conclusão: as mulheres não estão tão soltas e disponíveis assim para o sexo como imaginamos. Não é de estranhar que 2/3 das mulheres brasileiras nunca tomaram iniciativa para o sexo.
Se em vários campos da vida social as mulheres conseguiram espaço, a igualdade entre os sexos ainda reserva um tempo de espera para que a igualdade das práticas sexuais entre homens e mulheres aconteça. Um exemplo? Apesar de inúmeros avanços positivos a queixa quanto a falta de orgasmo ainda continua a atingir as mulheres: 1/3 não consegue chegar lá. As velhas explicações ainda são as possíveis causas: medo, culpa ou o parceiro.

Nota C
Dados curiosos
De 6% a 7% das mulheres brasileiras não tem nenhum interesse e não sentem falta de sexo. Dos homens brasileiros o número é de 2,5%.
33,3% das mulheres nunca se masturbam. Para um percentual 3% dos homens que nunca se masturbam
As mulheres colocam o sexo como 8ª preocupação como elemento na construção de uma vida de qualidade. Os homens em geral colocam em 2º lugar. Preocupações com doenças vêm em primeiro lugar para ambos.
O curioso é ver que as mulheres colocam a prática de uma atividade qualquer, como um hobby, por exemplo, como mais importante que o sexo.
 
 
Alexsandro