24/04/2009

Uma nota necessária sobre a esquizofrenização da sociedade e a depressão

O modo de produção e de reprodução da vida hoje em nossa sociedade, o modelo de vida nela instalado e em funcionamento é, potencialmente, depressivo e causador de depressão. Neste sentido a depressão é algo bem maior do que um problema individual, dessa ou daquela pessoa. Neste sentido a depressão não deve ser vista como um problema pessoal. Deve ser entendida como um vírus, uma bactéria, como uma doença externa ao sujeito, que, sem defesas ou com baixa imunidade, permite que ela se instale em seu corpo.
Há uma espécie de esquizofrenização da sociedade em pleno curso e não enxergar esse processo é se colocar à disposição, a qualquer momento, para a instalação em si de processos depressivos e/ou esquizofrenizantes (cuja distinção aqui não tem importância alguma). Diante desse fato, pode ser que uma pessoa acometida de depressão já não possua - sozinha - condições de se dar conta de que é mais uma vítima (sem vitimismo, sem infantilização, e sem excluir a responsabilidade pessoal pelo gerenciamento ou alienação do gerenciamento de sua própria vida). O fato é que a pessoa com depressão, tende a acreditar que o problema que gerou a depressão foi criado por ela mesma (o que pode só em parte ser verdadeiro, digo isso com o intuito de não excluir as responsabilidades que cada um tem, pelo menos, por deixar instalar a dita cuja em seu corpo).
Uma única pessoa não conseguiria o grande feito de criar o que se conhece hoje por depressão. Tal criação só é possível social e coletivamente, dentro de espirais de produção e de reprodução da vida nos moldes em que pôde escolher para reger esta mesma vida social coletiva. Acontece que a espiral coletiva que nos move e que se encontra sob a égide do capital, do grande e sacro mercado, do salve-se quem puder, do tombo no outro para subir e de procedimentos congêneres, não poderia deixar de produzir venenos psíquicos nocivos à saúde mental. Então, quando se fala em esquizofrenização em curso, é mais ou menos isso: produção em massa de depressivos e esquizofrenicos e um milhão de outras doenças psíquicas. É uma grande máquina de esquizofrenizar e deprimir.
Fala-se comumente que tais problemas decorrem de uma falta de adaptação social, mas, ao contrário, afirmamos que é o excesso de adaptação social (a gosto e/ou a contragosto), o inicio e a causa de tais problemas - só alguém esquizofrenizado consegue se ajustar plenamente ao tipo de sociedade corrente.
Acredito que este tema passa também por uma desconfiança que as pessoas possam ter quanto ao seu próprio poder de poder escolher quem querem ser. O que nos remete ao problema da identidade. Vivemos em um ambiente de identidades esfaceladas e neste sentido, muito mais suscetíveis às investidas esquizofrenizantes e depressivas do capital.
Um primeiro movimento autônomo pode ser a saída das armadilhas do mercado, qual seja, uma critica cética que busque transgredir as leis do mercado, rompendo com a idéia de esquizofrenia e de depressão.

23/04/2009

"Eu não as condeno à morte"

Eu compreendo, também, porque as pessoas sentem minha escrita como uma agressão. Elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte. Na realidade, sou bem mais ingênuo do que isso. Eu não as condeno à morte. Simplesmente suponho que já estejam mortas.

Michel Foucault