11/03/2013

Capitalismo Mundial Integrado e nossas formas de luta

O Capitalismo Mundial Integrado e sua ordem econômica estabeleceram no mundo o cruel, nefasto, arrogante, criminoso, violento e podre mandamento de vender, vender e vender – vende-se de tudo, compra-se de tudo.
O mundo virou um campo de guerra – luta-se por espaço (de mercado); concorrer virou prática comum – concorre-se por tudo. Alguns falam que isto já é a Quarta Guerra Mundial. (a Terceira foi a Guerra Fria):
- O argumento principal para justificar esta guerra é a necessidade de investir;
- O campo de batalha é o mercado;
- As armas são os arsenais financeiros;
- A meta é conquistar o mundo inteiro para transformá-lo em produto – mercadoria;
- O resultado até agora desta guerra é a morte de milhões de pessoas a cada instante.

O Capitalismo Mundial Integrado moldou-se na nossa cultura e se inscreveu em todos os cantos, todas as brechas, todas as pregas das nossas vidas. Fez simbiose com os nossos lençóis, nossas colheres e pratos. Adentrou nossos banhos. Colonizou nossos vinhos e virou nossa embriagues. Ele é o plugue dos nossos aparelhos, eletrônicos ou musculares, a poluição no ar, o som alto do carro do vizinho, as grades nas janelas, o arame farpado da cerca na chácara, o fio elétrico que corre sobre o muro, a conversa idiota daquela estudante de direito que acha que seus direitos devem ser preservados em nome da sua individualidade mesquinha e inconsequente. Ele se encontra na margarina que lambuza o pão. Ele é o pau derrotado daqueles que ejaculam em nome de um prazer sem ética ou estética (um prazer rejeitado até pelas bactérias). Ele invade os úteros para produzir filhos legítimos para a produção e o consumo. Diante dele e contra ele todas as formas de luta são aceitáveis:

Todas as formas da luta são aceitáveis. Com a condição de se inserirem num movimento coletivo que denuncie, simultaneamente, as finalidades do sistema liberal, as múltiplas conivências que este tece com o mundo jornalístico, o enclausuramento de nossas vidas na ótica unidimensional da produção-consumo, a uniformização cultural e econômica do planeta e as ações dos homens, ou aparelhos de poder, que não cessam de despolitizar os cidadãos para melhor subjugá-los. Se não, valem tanto quanto se abster. (François Brune)

Devemos ter em mente também que toda luta e todo processo de libertação começa e passa pelo corpo. Liberdade significa libertar o corpo daquilo que o amarra. Sem um corpo a liberdade não faz sentido algum. Veja, por exemplo, que muitos acham que o ciberespaço é a grande nova fronteira humana a ser explorada como espaço de libertação. Mas, infelizmente, “o ciberespaço é um espaço sem corpo. Ele é, de fato, um espaço abstrato e conceitual. Não existe cheiro nele, nem gosto, nem sentimento e nem sexo. Se qualquer uma dessas coisas existe lá, são apenas simulacros dessas coisas e não elas mesmas.” (Hakim Bey)

¿Se nos apegamos tanto a simulacros não seria justamente devido a miséria de vida que levamos no mundo “real”?  Por conta disso e mais do que nunca a reflexão de Nietzsche sobre nossos combates e nossa forma de combater nunca foi tão válida:
É preciso estudar as misérias dos homens, incluindo entre essas misérias as ideias que eles têm quanto aos meios para combatê-las.

Vejo que esse sistema não pode suportar muita coisa, dai sua fragilidade em cada canto, mas ao mesmo tempo essa é sua força de repressão, como não pode suportar muito, muda, deixa de ser e passa a ser outra coisa. ¿Quem pode combater facilmente algo assim? ¿Poderá as crianças combater o sistema? Sim, até elas podem. Não há lugar exclusivo para o combate, nem lutadores específicos. Ou, como disse uma vez Deleuze, “acredito que bastaria apenas que elas (as crianças) fossem ouvidas em seus protestos para explodir todo o conjunto do sistema de ensino”.

Gosto de acreditar que pensar também é uma forma de luta. Vejo que pensar e escrever são formas de por uma revolução em movimento. Por isso gosto desta reflexão do Saramago que diz:

"Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma."


Alexsandro