A sociedade da decepção é o título de um dos livros de Gilles Lipovetsky e o tema central é o que o próprio título indica: como a decepção se tornou uma das marcas distintiva da nossa experiência.
Abaixo segue uma citação do livro no qual ele surpreende ao afirmar que nos decepcionamos nem tanto por desejamos os bens materiais que os outros possuem e não podemos ter. Superamos essa fase ou estamos em vias de superar, no entanto, ainda continuamos a desejar (ou invejar) bens não-comercializados (aquilo que o dinheiro não compra). "A inveja provocada pelos bens não-comercializáveis (amor, beleza, prestígio, êxito, poder) permanece inalterável".
"Ao fim e ao cabo, o mau uso dos bens públicos desperta mais indignação do que o uso de bens particulares. Com efeito, de que os consumidores se queixam mais freqüentemente? Dos engarrafamentos de trânsito, das praias superlotadas, do processo de descaracterização da paisagem natural por obra das construtoras de edifícios ou da invasão de turistas, da repugnante promiscuidade nos transportes coletivos, do barulho dos vizinhos, etc. Em outras palavras, o que gera decepção não é tanto a falta de conforto pessoal, mas a desagradável sensação de desconforto público e a constatação do conforto alheio.
Não surpreende, portanto, que seja no âmbito dos serviços, baseado no relacionamento entre as pessoas, que a decepção é mais freqüente. Manifestações de crítica são muito comuns contra o corpo docente das instituições de ensino, contra o mau funcionamento da Internet, contra o despreparo da classe médica...
Mas, em outra perspectiva, entretanto, convém não esquecer que, diferentemente do que ocorria no passado, os elos entre as pessoas e a esfera do consumo estão cada vez mais entranhados. Muito daquilo que compramos, não o fazemos com a finalidade de granjear a estima deste ou daquele, mas sobretudo visando a nós mesmos, isto é, tendo como objetivo aperfeiçoar os nossos meios de comunicação com o semelhante, melhorar o desempenho físico e a saúde do corpo, buscar sensações vibrantes e variadas formas de emoção, vivenciando experiências sensitivas ou estéticas. É nessa acepção que o espírito de consumo em benefício do outro, típico das antigas sociedades de classe, retrocede, dando lugar ao consumo para si. Em resumo, o consumo individualista emocional assume agora a dianteira em relação ao consumismo ostentador de classe. Simultaneamente, a tendência dominante é aceitar com maior naturalidade que outros possuam algo que não temos, porque a atenção de cada indivíduo está hoje mais voltada para a sua própria experiência íntima do que para o desempenho dos demais. Ao contrário dos primórdios da era democrática, que muito contribuiu para a disseminação do sentimento de inveja, na atual fase do hiperindividualismo consumista, muito mais raramente nos deparamos com aquele indivíduo que se dilacera interiormente por falta de poder aquisitivo para comprar o mesmo automóvel de alta qualidade do vizinho. A inveja provocada pelos bens não-comercializáveis (amor, beleza, prestígio, êxito, poder) permanece inalterável, mas aquela provocada pelos bens materiais diminui."
Abaixo segue uma citação do livro no qual ele surpreende ao afirmar que nos decepcionamos nem tanto por desejamos os bens materiais que os outros possuem e não podemos ter. Superamos essa fase ou estamos em vias de superar, no entanto, ainda continuamos a desejar (ou invejar) bens não-comercializados (aquilo que o dinheiro não compra). "A inveja provocada pelos bens não-comercializáveis (amor, beleza, prestígio, êxito, poder) permanece inalterável".
"Ao fim e ao cabo, o mau uso dos bens públicos desperta mais indignação do que o uso de bens particulares. Com efeito, de que os consumidores se queixam mais freqüentemente? Dos engarrafamentos de trânsito, das praias superlotadas, do processo de descaracterização da paisagem natural por obra das construtoras de edifícios ou da invasão de turistas, da repugnante promiscuidade nos transportes coletivos, do barulho dos vizinhos, etc. Em outras palavras, o que gera decepção não é tanto a falta de conforto pessoal, mas a desagradável sensação de desconforto público e a constatação do conforto alheio.
Não surpreende, portanto, que seja no âmbito dos serviços, baseado no relacionamento entre as pessoas, que a decepção é mais freqüente. Manifestações de crítica são muito comuns contra o corpo docente das instituições de ensino, contra o mau funcionamento da Internet, contra o despreparo da classe médica...
Mas, em outra perspectiva, entretanto, convém não esquecer que, diferentemente do que ocorria no passado, os elos entre as pessoas e a esfera do consumo estão cada vez mais entranhados. Muito daquilo que compramos, não o fazemos com a finalidade de granjear a estima deste ou daquele, mas sobretudo visando a nós mesmos, isto é, tendo como objetivo aperfeiçoar os nossos meios de comunicação com o semelhante, melhorar o desempenho físico e a saúde do corpo, buscar sensações vibrantes e variadas formas de emoção, vivenciando experiências sensitivas ou estéticas. É nessa acepção que o espírito de consumo em benefício do outro, típico das antigas sociedades de classe, retrocede, dando lugar ao consumo para si. Em resumo, o consumo individualista emocional assume agora a dianteira em relação ao consumismo ostentador de classe. Simultaneamente, a tendência dominante é aceitar com maior naturalidade que outros possuam algo que não temos, porque a atenção de cada indivíduo está hoje mais voltada para a sua própria experiência íntima do que para o desempenho dos demais. Ao contrário dos primórdios da era democrática, que muito contribuiu para a disseminação do sentimento de inveja, na atual fase do hiperindividualismo consumista, muito mais raramente nos deparamos com aquele indivíduo que se dilacera interiormente por falta de poder aquisitivo para comprar o mesmo automóvel de alta qualidade do vizinho. A inveja provocada pelos bens não-comercializáveis (amor, beleza, prestígio, êxito, poder) permanece inalterável, mas aquela provocada pelos bens materiais diminui."
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