Qual deve ser o papel fundamental de um professor? Alguém dirá que é ensinar. Mas ensinar o que e em qual direção? Assim, quando nos deparamos com questões do tipo: Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos? As perguntas que devemos fazer são: O que é um homem sábio e virtuoso? E para tanto, o que deverá ser ensinado? Quem vai ensinar?
Não é minha intenção responder tais perguntas, gostaria apenas de apresentar alguns pressupostos para discussão:
1. Cabe ao professor ensinar que aquilo que assumimos como verdade tem uma história que precisa ser conhecida, analisada, criticada e, em muitos casos, destruída.
Exemplo: Hoje em dia fala-se muito em sucesso. É um discurso tido como óbvio, como verdadeiro, pois é um assunto que vemos presente na mídia, nas escolas, nas conversas cotidianas. Muitos afirmarão que é sábio buscar sucesso em todas as áreas da vida, principalmente o profissional. Mas o que é sucesso? Para que serve sucesso?
Imaginemos alguém que foi de pobre a rico, de simples mortal a celebridade, de desempregado a diretor de empresa. O que tais mudanças provocam em alguém? Quais os efeitos que mudanças assim provocam nas pessoas? São só mudanças positivas? Não sei, de fato tenho cá minhas dúvidas. Alguém pode contestar dizendo que é melhor tomar antidepressivo dentro de uma Ferrari a ficar ouvindo piadas dentro de um ônibus. Tudo bem, podemos até concordar, mas essa anedota evidência o que queremos dizer aqui: que não há sucesso sem crise e que nem todos estão preparados para as mudanças que o sucesso traz. O pressuposto básico por detrás de afirmações sobre o sucesso é o de que todos estão aptos para viver tudo e qualquer tipo de experiência que o sucesso possibilita, mas não é assim. Nem todos estão preparados para o peso e as responsabilidades da nova posição. Assim, nem tudo que é apregoado sobre o sucesso é verdadeiro e cabe a nós professores sermos os primeiros a questionar o valor de tais afirmações.
2. Um professor deve trabalhar com evidências. Um professor deve aprender ele mesmo, antes de qualquer outra coisa, a trabalhar com evidências, com fatos. Entendendo por evidência tudo aquilo que pode ser usado para provar que uma determinada informação ou afirmação é verdadeira ou falsa. Buscar sempre evidências e argumentos para sustentar o dito, o falado.
Exemplo: Acima usei a noção de sucesso afirmando que se divulga e se propaga uma idéia totalmente equivocada do seu significado. Como posso evidenciar isso? Como posso provar minha afirmação? No espaço deste pequeno texto não tenho muita possibilidade de fazê-lo de forma correta e coerente. Usarei apenas os comentários do psicanalista Jorge Forbes a respeito do assunto como forma de validar meus argumentos.
Explicando como nossa sociedade deixou de ser guiada por valores que tinham nas “hierarquias verticais” seu ponto de apoio - a hierarquia dos mais velhos sobre os mais jovens, por exemplo - e que isso trouxe como conseqüência a falta de referências. Referências que eram usadas para encontrar respostas ou apoio para suportar uma angústia que se fazia presente, Jorge Forbes aponta que agora temos as angustias, mas não sabemos o que fazer com elas. Se até bem pouco tempo valiam as afirmações do tipo: "eu sou mais velho, sei do que falo", "sou mais experiente, siga meu exemplo", hoje tais afirmações já não possuem o mesmo significado. Já não temos o “mais velho” para nos guiar. E sem guia ficamos desnorteados.
"O resultado está aí: a série que deveria ser: descoberta, sucesso, fama, dinheiro, conforto e satisfação, tem sido: descoberta, sucesso, fama, dinheiro, mulheres, drogas, violências, desastres, prisão ou ostracismo. Podemos pensar em uma explicação paradigmática, além das particularidades de cada caso, o que o mais das vezes só anda tampando o sol com a peneira: foi o pai violento, a mãe alcoólatra, as más companhias, a péssima educação, o irmão psicopata, etc. Ocorre que a saída da pobreza e do anonimato para a riqueza e a fama, subitamente, gera uma forte crise de identidade. Ter sucesso é cair fora; na palavra sucesso, tem a raiz ceder, cair. Quem tem sucesso cai fora do seu grupo habitual de pertinência. Jobim não tinha razão quando dizia que o brasileiro não desculpava o sucesso, pois nenhum povo desculpa, só variam as maneiras de demonstrá-lo. A máxima de Ortega y Gasset ainda é válida: “Eu sou eu e a minha circunstância”. E quando a minha circunstância muda abruptamente, fica a pergunta profundamente angustiante: - “Quem sou eu?”, que fundamenta a crise de identidade. Aí, com freqüência a pessoa se aliena em uma identidade forjada, aquela que fica bem na fotografia, a máscara; surge assim o mascarado. Quantos e quantos jogadores de futebol não se transformaram em mascarados diante dos nossos olhos? E a coisa não pára por aí. A máscara não é suficiente para dominar a angústia causada pelo sucesso, vindo, em seguida, um sentimento terrível de ilimitação, de poder tudo. Quer alguma coisa, compra; quer um amor, toma; quer ter razão, impõe. Esse sentimento de quebra de fronteiras pede um basta que não raramente aparece da pior forma: no insulto, no acidente, na morte. Alguns têm a sorte de passarem por um desastre controlável e depois conseguem se recuperar, carregando beneficamente a cicatriz de sua desventura, mas muitos e muitos vão e não voltam.”
3. Se tivermos de falar em virtudes, falemos da prudência. Não há mal algum no exercício de alguém que sabe mais do que outro informar o que é preciso saber e fazer, enfim, ensinar. O problema se encontra no tipo de informação que é transmitida e na forma que essa relação acaba por se configurar, ou seja, quais os efeitos de dominação que aparecerão nessa relação. Efeitos de dominação que farão com que um menino ou uma menina sejam subjugados à autoridade arbitrária de um professor.
Não é minha intenção responder tais perguntas, gostaria apenas de apresentar alguns pressupostos para discussão:
1. Cabe ao professor ensinar que aquilo que assumimos como verdade tem uma história que precisa ser conhecida, analisada, criticada e, em muitos casos, destruída.
Exemplo: Hoje em dia fala-se muito em sucesso. É um discurso tido como óbvio, como verdadeiro, pois é um assunto que vemos presente na mídia, nas escolas, nas conversas cotidianas. Muitos afirmarão que é sábio buscar sucesso em todas as áreas da vida, principalmente o profissional. Mas o que é sucesso? Para que serve sucesso?
Imaginemos alguém que foi de pobre a rico, de simples mortal a celebridade, de desempregado a diretor de empresa. O que tais mudanças provocam em alguém? Quais os efeitos que mudanças assim provocam nas pessoas? São só mudanças positivas? Não sei, de fato tenho cá minhas dúvidas. Alguém pode contestar dizendo que é melhor tomar antidepressivo dentro de uma Ferrari a ficar ouvindo piadas dentro de um ônibus. Tudo bem, podemos até concordar, mas essa anedota evidência o que queremos dizer aqui: que não há sucesso sem crise e que nem todos estão preparados para as mudanças que o sucesso traz. O pressuposto básico por detrás de afirmações sobre o sucesso é o de que todos estão aptos para viver tudo e qualquer tipo de experiência que o sucesso possibilita, mas não é assim. Nem todos estão preparados para o peso e as responsabilidades da nova posição. Assim, nem tudo que é apregoado sobre o sucesso é verdadeiro e cabe a nós professores sermos os primeiros a questionar o valor de tais afirmações.
2. Um professor deve trabalhar com evidências. Um professor deve aprender ele mesmo, antes de qualquer outra coisa, a trabalhar com evidências, com fatos. Entendendo por evidência tudo aquilo que pode ser usado para provar que uma determinada informação ou afirmação é verdadeira ou falsa. Buscar sempre evidências e argumentos para sustentar o dito, o falado.
Exemplo: Acima usei a noção de sucesso afirmando que se divulga e se propaga uma idéia totalmente equivocada do seu significado. Como posso evidenciar isso? Como posso provar minha afirmação? No espaço deste pequeno texto não tenho muita possibilidade de fazê-lo de forma correta e coerente. Usarei apenas os comentários do psicanalista Jorge Forbes a respeito do assunto como forma de validar meus argumentos.
Explicando como nossa sociedade deixou de ser guiada por valores que tinham nas “hierarquias verticais” seu ponto de apoio - a hierarquia dos mais velhos sobre os mais jovens, por exemplo - e que isso trouxe como conseqüência a falta de referências. Referências que eram usadas para encontrar respostas ou apoio para suportar uma angústia que se fazia presente, Jorge Forbes aponta que agora temos as angustias, mas não sabemos o que fazer com elas. Se até bem pouco tempo valiam as afirmações do tipo: "eu sou mais velho, sei do que falo", "sou mais experiente, siga meu exemplo", hoje tais afirmações já não possuem o mesmo significado. Já não temos o “mais velho” para nos guiar. E sem guia ficamos desnorteados.
"O resultado está aí: a série que deveria ser: descoberta, sucesso, fama, dinheiro, conforto e satisfação, tem sido: descoberta, sucesso, fama, dinheiro, mulheres, drogas, violências, desastres, prisão ou ostracismo. Podemos pensar em uma explicação paradigmática, além das particularidades de cada caso, o que o mais das vezes só anda tampando o sol com a peneira: foi o pai violento, a mãe alcoólatra, as más companhias, a péssima educação, o irmão psicopata, etc. Ocorre que a saída da pobreza e do anonimato para a riqueza e a fama, subitamente, gera uma forte crise de identidade. Ter sucesso é cair fora; na palavra sucesso, tem a raiz ceder, cair. Quem tem sucesso cai fora do seu grupo habitual de pertinência. Jobim não tinha razão quando dizia que o brasileiro não desculpava o sucesso, pois nenhum povo desculpa, só variam as maneiras de demonstrá-lo. A máxima de Ortega y Gasset ainda é válida: “Eu sou eu e a minha circunstância”. E quando a minha circunstância muda abruptamente, fica a pergunta profundamente angustiante: - “Quem sou eu?”, que fundamenta a crise de identidade. Aí, com freqüência a pessoa se aliena em uma identidade forjada, aquela que fica bem na fotografia, a máscara; surge assim o mascarado. Quantos e quantos jogadores de futebol não se transformaram em mascarados diante dos nossos olhos? E a coisa não pára por aí. A máscara não é suficiente para dominar a angústia causada pelo sucesso, vindo, em seguida, um sentimento terrível de ilimitação, de poder tudo. Quer alguma coisa, compra; quer um amor, toma; quer ter razão, impõe. Esse sentimento de quebra de fronteiras pede um basta que não raramente aparece da pior forma: no insulto, no acidente, na morte. Alguns têm a sorte de passarem por um desastre controlável e depois conseguem se recuperar, carregando beneficamente a cicatriz de sua desventura, mas muitos e muitos vão e não voltam.”
3. Se tivermos de falar em virtudes, falemos da prudência. Não há mal algum no exercício de alguém que sabe mais do que outro informar o que é preciso saber e fazer, enfim, ensinar. O problema se encontra no tipo de informação que é transmitida e na forma que essa relação acaba por se configurar, ou seja, quais os efeitos de dominação que aparecerão nessa relação. Efeitos de dominação que farão com que um menino ou uma menina sejam subjugados à autoridade arbitrária de um professor.
Alexsandro
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