20/09/2009

É muito chato ser sempre o mesmo

A identidade é apenas um jogo (não um fato determinado), apenas um procedimento para favorecer relações, relações sociais e as relações de prazer sexual que criem novas amizades, então ela é útil. Mas se a identidade se torna o problema mais importante da existência (sexual ou qualquer outra), se as pessoas pensam que elas devem “desvendar” sua “identidade própria” e que esta identidade deva tornar-se a lei, o princípio, o código de sua existência (eu sou assim, sempre fui assim, nasci assim, assim serei para todo sempre),  se a questão que se coloca continuamente é: “Isso está de acordo com minha identidade?” (com aquilo que eu sou), então eu penso que fizeram um retorno a uma forma de ética muito próxima à da heterossexualidade tradicional. Se devemos nos posicionar em relação à questão da identidade, temos que partir do fato de que somos seres únicos. Mas as relações que devemos estabelecer conosco mesmos não são relações de identidade (no sentido de já estarem determinada de forma definitiva para todo sempre), elas devem ser antes relações de diferenciação, de criação, de inovação. É muito chato ser sempre o mesmo. Nós não devemos excluir a identidade se é pelo viés desta identidade que as pessoas encontram seu prazer, mas não devemos considerar essa identidade como uma regra ética universal. (Existe sempre a possibilidade de ser outro, de me transformar em outro).

Michel Foucault


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