26/09/2009

As relações são apostas no escuro



Em uma relação, seja de qual tipo for, é impossível determinar que ali se encontrará estabilidade e segurança eterna, tal garantia nunca houve. As relações se dão como uma aposta no escuro. Não há como prometer satisfação plena e quem espera por ela se arrisca a passar uma vida de procura. Não existe formulas para se manter uma relação ou para manter-se nela. Toda relação é única naquilo que ela pode, positiva ou negativamente, possibilitar. Não há relação perfeita, não há um encontro perfeito. O que há são imagens e modelos ideais de relações que são veiculadas de diversas formas e por vários motivos ao longo da sociedade.
Para entender tal fato devemos ter em mente que as sociedades estabelecem papeis que devem ser vividos pelos sujeitos e passa a cobrar a vivência destes papeis em toda sua expressão. Mas o fato de serem exigidos socialmente não significa que os sujeitos sejam capazes de seguir fielmente a ditaduras dos papeis sociais. De fato, esta impossibilidade acaba sendo a responsável pelo desequilíbrio presente entre aquilo que o papel define como correto e aquilo que de fato os sujeitos são capazes de viver. É nessa distância entre aquilo que foi estabelecido pelo papel e aquilo que é vivido que se encontra a fonte de grande parte dos conflitos presentes em uma relação.
Ainda nos é estranho constatar que em uma relação não se pode esperar que um entenda completamente quem o outro é, que um saiba exatamente o que o outro pensa e o que deseja. Esse fato talvez seja o mais difícil de ser vivido por duas pessoas que se sentiram atraídas. Também nos é estranho constatar que é inútil esperar que um adivinhe o pensamento do outro - vale a sentença: o pensamento não comunica. A coisa se complica quando se considera que estão implicadas duas maneiras de entender a própria relação e o sentido dela. De fato, numa relação temos duas relações: a que é vivida por um e a que é vivida pelo outro, o sentido que um e o sentido que o outro dá aquilo que experimentam juntos. Apesar de partilharem experiências, entendem essas experiências de modos diferentes, assim como entendem de modos diferentes os sentimentos envolvidos na manutenção do sentido que cada um dá aquilo que experimentam.
Diante do exposto, podemos supor que grande parte dos conflitos presente em uma relação surge em decorrência dessas dessimetrias. Quando um percebe que o outro não está em perfeita sintonia com os seus ditames cria-se um estado de insatisfação pela falta de cuidado do outro e pelo fato de um não corresponder ao modelo ideal do outro. A partir daí surgem as desavenças, as crises, as brigas, a violência e o desconforto. O vinculo afetivo está ameaçado.
Diante de tal situação, por que não pensar que as relações são perfeitas pelo simples fato das pessoas não serem perfeitas. Pelo simples fato de que não é a perfeição de um ou do outro que importa, mas a relação, não no sentido dela ser perfeita, mas dela ser ou não produtiva. A pergunta que ambos deveria fazer a relação então seria: “o que esta relação produz?” Em seguida, dependendo da resposta, decidirem que caminho seguir.
Por outro lado há o perigo de não se perceber que se embarcou em um navio cujo destino é a contínua anulação dos envolvidos. Os dois se tornaram náufragos da relação, já não tendo forças para remar, vão afundando com a relação. Os dois se tornam ínfimos e o mar em volta tende a afogá-los. Um se tornou refém do outro. Não se pode deixar de constatar que é isto que acontece em muitas relações. A dificuldade presente em ambos ou em um deles em romper o vínculo, ou mesmo de entender este vinculo de uma outra perspectiva, torna a experiência mais difícil ainda de ser superada.
É estranho perceber como é difícil por fim a infelicidade. O caminho mais seguido é aquele no qual se busca um culpado. Ninguém quer assumir a responsabilidade pelo fracasso. O “bom” é aquele que quer ficar, o “mau” é aquele que quer sair. Mas, se pensarmos bem, entenderemos quão cruel é manter alguém em uma relação que já não produz nada de bom. Os rompimentos, mesmo sendo dolorosos, são úteis e necessários.


Alexsandro A. O.


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