06/05/2012

Deus e a moral

¿O que entendemos por moralidade? ¿O que a moral deve proteger? ¿E no nosso caso que vivemos sob a influência da moral cristã, o que tal moral protege? A moral cristã visa proteger (e salvar) a alma. Visa protegê-la da condenação eterna no inferno. Se assumirmos que a moral cristã parte desse princípio, as questões que se seguem são: ¿Existe alguma evidência de que o inferno cristão existe? ¿Quais as consequências de acreditar em algo assim?
Milhões de pessoas estão doentes neste momento. Milhões de pessoas estão rezando para Deus neste momento para que essas pessoas sejam curadas. Milhões de pessoas não vão ficar curadas. Milhões de pessoas estão morrendo neste momento. Milhões de pessoas estão rezando neste momento por elas (¿qual a finalidade de rezar por alguém que morreu? Não sei). Penso nos pais, nas mães, nos irmãos, esposos e esposas, avôs e avós que estão rezando neste momento por seus parentes queridos e que não serão ouvidos. O argumento que muitos vão usar é que tudo isso faz parte dos planos de Deus. Mas eu cito aqui o argumento de Epicuro:

Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então existência dos males? Por que razão é que não os impede?

Em outras palavras:

Se Deus é omnipotente, omnisciente e benevolente. Então o mal não poderia continuar existindo. Se for omnipotente e omnisciente, então tem conhecimento de todo o mal e poder parar e acabar com ele, ainda assim não o faz. Então, Ele não é bom. Se for omnipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe quanto mal existe, e onde o mal está. Então, Ele não é omnisciente. Se for omnisciente e bom, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas isso elimina a possibilidade de ser omnipotente, pois se o fosse erradicava o mal. E se Ele não for omnipotente, omnisciente e bom, então por que chama-lo de Deus?

Conclusão, um Deus que diante do mal não faz nada, ou é impotente ou malévolo.
De outra parte tiramos de Deus todo ônus pelo mau presente no mundo. Se algo bom acontece é por obra e graça de Deus. Afirmamos que Deus é bom, justo e amável. Todavia quando algo de ruim acontece, quando algo cruel e injusto acontece, algo que provoca sofrimento, ainda pior quando acontece com pessoas inocentes, afirmamos que é vontade de Deus, que ele é misterioso, que não cabe a nós questionar sua vontade, que não somos capazes de entender toda sua vontade. Que devemos nos conformar por não compreendê-Lo e que devemos confiar. E se não sabemos lidar com isso é por conta da nossa racionalidade absoluta que luta contra a maravilha e o fascínio do mistério. Enfim, Deus é insondável e devemos nos conformar, pois se nem mesmo Moisés conseguiu arrancar de deus uma resposta clara a seu respeito, ¿quem somos nós para ousarmos fazer isso? (Quando perguntado sobre qual seu nome, Deus fez questão de deixar tudo mais nebuloso do que dia de chuva forte, dizendo apenas: “Eu sou o que sou” (Êxodo 3:14)).
Em outros momentos falamos da sua sabedoria e da nossa loucura, na qual a sabedoria humana é loucura perante Deus. Os pensamentos de Deus são mais altos do que podemos atingir através de nossas faculdades humanas. Conclusão: Ele sabe certamente o que será melhor, nós é que não entendemos.


I CORINTIOS [3]
18  Ninguém se engane a si mesmo; se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para se tornar sábio.
19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia;
20 e outra vez: O Senhor conhece as cogitações dos sábios, que são vãs.
21 Portanto ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso;
22 seja Paulo, ou Apolo, ou Cefas; seja o mundo, ou a vida, ou a morte; sejam as coisas presentes, ou as vindouras, tudo é vosso,
23 e vós de Cristo, e Cristo de Deus.

O que assistimos é um jogo retórico. Em um momento entendemos Deus porque ele é amor, em outro não o entendemos porque ele é misterioso. Quando é conveniente compreender Deus, assim o fazemos, mas quando estamos diante de evidências contrárias aquelas que apresentam Deus como um ser bondoso, nos recusamos a ver. O que representa uma ação totalmente desonesta e do ponto de vista moral, repugnante.


Alexsandro