11/08/2014

Somos alienígenas em nosso próprio planeta



A sociedade contemporânea, marcadamente mercadológica, se reproduz num processo alucinante, numa espécie de canibalismo de si: produção e consumo sem medida para absolutamente tudo. Sociedade na qual cada um e todos são alienígenas que não conseguem se encaixar. 
Fazemos muito esforço para que tudo se encaixe. Mas nada se encaixa, cada aspecto das nossas vidas tem pouca ou nenhuma ligação com outros aspectos. Se fossemos um personagem sem nome, sem história, sem propósito, não faria a menor diferença. Sem alma e sem essência sob as camadas da pele, percebemos que somos algo que não mais reconhecemos como nosso. Nossos diálogos são lacônicos: diálogos que não fazem refletir. Vivemos com a sensação de já ter visto tudo antes, de já ter ouvido tudo antes, de fazer sempre do mesmo modo. Sabe aquela sensação de vida desconectada?
Por nada fazer sentido, buscamos uma humanidade que não possuímos por meio da inveja dos outros - que me invejem, pois assim confirmo que sou algo com significado. Estimula-se a inveja como forma de se chegar a ser algo próximo do desejável em termos de produto a venda. Daí, da inveja à sedução: seduzimos e nos deixamos seduzir para tentar confirmar que fazemos parte de algo maior do que nós e que nosso lugar está garantido. 
Como alienígenas em nosso próprio mundo, abdicamos do poder de habitá-lo como força viva e potencia vigorosa da vida. Sucumbimos diante do poder de sedução do mercado que nos capturou e abduziu a vida humana e suas forças de criação.



Alexsandro