23/06/2010

Não tão simples assim

Como a presença de uma cultura estrangeira – filmes, novelas, imprensa - prejudica no desenvolvimento da identidade de uma outra nação?

Devemos entender que a cultura não é estática, ela encontra-se sempre em movimento: invenções dos mais diversos tipos, a difusão espontânea ou forçada de aspectos culturais de uma sociedade para outra, são exemplos dos mecanismos que possibilitam a dinâmica cultural. Há, com certeza, mudanças em todos os sentidos, algumas possibilitam melhoras e outras pioras nas relações sociais. Mas sempre há conflitos, sobretudo em tornos dos interesses envolvidos. E mais, o conceito de identidade não é um conceito fácil de ser trabalhado. Sobre a importância e as implicações do conceito de identidade eu tenho mais perguntas que respostas: será que o que determina um comportamento é a ligação com uma identidade? Quais as implicações dos regulamentos que cada identidade traz na construção das relações? Será que aquilo que dá sentido ao que somos se encontra vinculado a obediência a um conjunto de códigos de um grupo específico, uma ideologia, uma crença, uma política? Será que é a identidade que nos permite viver? Quando paro e tento perceber como as relações estão se apresentando, como as formas de vida estão sendo experimentadas, penso que a maneira como os sujeitos, os grupos e as sociedades organizadas em torno das identidades são mais produtores de desordens do que aqueles sistemas que estão tentando se organizar e se desenvolver fora deste esquema de identificação.


A indústria cultural promove ou prejudica a formação da cultura popular?

Segundo teóricos como Adorno e Horkheimer os produtos advindos da indústria cultural tendem a fetichização e são consumidos porque são considerados um sucesso e não pelo fato de possuírem alguma qualidade estética intrínseca, o que seria ruim. Entretanto, e isso é um ponto delicado dessa teoria, tal forma de pensar pode desaguar em um elitismo tão perigoso quanto aquilo que tenta combater, pois ao comparar a passividade do consumidor à uma atitude reflexiva saída de uma “cultura erudita” eles desconsideram o fato de que essa produção pode e é apropriada em diversos sentidos pelo consumidor.
A arte não tem a função de salvar nada nem ninguém, ela não possui um significado por si, para que ela adquira sentido devemos valorá-la. Sendo assim, gosto de entender a arte como algo que deve ser fonte de vida e de força, não de fraqueza e coisas melosas.
Em tempos no qual a mídia e grande parte dos artistas servem apenas a eles mesmos, o controle das formas de expressão é a melhor maneira de subjugar os sujeitos. Alguém sem informação não consegue pensar para além do pouco que conhece. Quanto mais miserável é o meu mundo, mais limitado eu sou. Tornar-se ao menos um pouco culto é abrir-se para a possibilidade de criação de novas formas de ser e ver o mundo no qual estamos inseridos. Sem isso estamos fadados a uma vida pobre. Muitos precisariam de aulas para compreender a riqueza do que é dito, por exemplo, em um filme como Matrix, que é produto da indústria cultural.
É certo que há muitos interesses sacanas, gananciosos e mesquinhos por trás da promoção de uma cultura mercadológica, isso todos sabemos (ou deveríamos saber), entretanto, o maior problema se encontra no fato de que com ela nossas medidas de comparação ficaram embaralhadas, ou seja, estamos confundindo aquilo que possibilita vida com aquilo que nos deixa satisfeitos (numa espécie de satisfação efervescente e refrescante). Mas o problema é muito maior, tem a ver com a forma como o capital está consumindo nossas vidas. Numa sociedade como a nossa, na qual a maioria das pessoas vive como escravos em trabalhos desconfortáveis e sem significado algum além do salário, em função rotineiras e cansativas, tendo que refazer isso durante a semana, o mês, o ano inteiro, em média oito horas por dia, não vai fazer tudo isso com prazer e alegria. E mesmo que o salário seja bom ele não ameniza o sofrimento dessa rotina. Pessoas que se encontram numa situação assim, quando param para descansar ou relaxam procuram um entretenimento fácil. Infelizmente a grande maioria das pessoas, independentemente da idade, satisfazem-se com coisas idiotas e porcarias fáceis de consumir.


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