27/10/2009

José Angelo Gaiarsa

Dizem que os pais não estão mais orientando os filhos, mas quem orientou esses idiotas?


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Por cinqüenta dos meus 82 anos, de 6 a 8 horas por dia eu só ouvi queixas familiares. Ninguém conhece o lado sombrio da família melhor que eu. Sinto-me plenamente autorizado a falar mal dela, o que tem de ruim não está escrito. Ela é o eixo do conservadorismo, sim. "Pai e mãe estão sempre certos": isso é o próprio tiranismo à Saddam Hussein. E o pior é que muitas mães e pais acreditam nisso.


Por que há os filhos que matam pais e avós e por que isso tem essa repercussão gigantesca? Os fundamentos da família clássica - pai, mãe e filho - estão começando a derreter. Esses crimes são um dos sintomas mais gritantes, mas há outras coisas, como a criançada que sai muito mais cedo, que tem muito mais atividades - boas ou más - e as mães que trabalham fora. As crianças estão sendo muito menos controladas, muito menos desviadas e envenenadas pelos velhos valores. Podem até estar sendo envenenadas pelos novos, mas não é esse o ponto. Hoje em dia todo mundo brinca com a supermãe, com o superpai. Ontem eu ouvi uma história bonita de um senhor que contou que seus três filhos chegaram pra ele e disseram: "Pai, a gente não quer mais ter pai, mas você tem que ficar amigo da gente". Essa é a lição de hoje. Não queira mais ensinar como era o mundo do seu tempo, porque você estará falando sozinho. Troca de experiências é outra coisa. Trocar experiências é ótimo, de sentimentos nem se fala, mas nada de lições de vida.


Metade dos pais brasileiros são alcoólatras crônicos, têm quantos filhos quiserem, um exemplo doméstico mortífero, horrível. A família é muito falada, elogiada e em nada cuidada.


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