04/10/2009

As explicações para a origem

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“No começo -- contam os Kamaiurá, tribo do alto Xingu -- só havia Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filhos, nenhum parente ele tinha. Era só.
Um dia ele fez uma concha virar mulher e casou com ele. Quando o filho nasceu, perguntou para a esposa:
-- É homem ou mulher?
-- É homem.
-- Vou levar comigo.
E foi embora. A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez.
Nós -- dizem os índios -- somos netos do filho de Mivutsinim.”


Esta bela narrativa mítica sobre a origem desses índios é um bom exemplo, entre as muitas explicações que o homem, seja ele de qualquer povo, buscou para explicar suas origens. Todos os povos possuem histórias e lendas antiquíssimas que procuram explicar a origem de tudo. Nós, filhos da cultura ocidental, herdamos uma explicação religiosa registrada no primeiro livro da Bíblia, o Gênesis. Cada explicação religiosa, mítica, sobrenatural, reflete a cosmovisão de seus criadores.

Se situarmos apenas o Ocidente como ponto de discussão, faz-se necessário entender que houve uma mudança de interpretação: passou-se de uma cosmovisão teocêntrica para uma antropocêntrica, o que permitiu que a história fosse vista com olhos mais humanos que divinos, assim, ao invés de uma história sagrada, buscou-se, então, uma história natural. Esse acontecimento representa uma ruptura na ordem transcendente que durou quase dois mil anos e que fora definido pelos intelectuais gregos, sendo posteriormente retomado a seu modo pelos teólogos cristão da Idade Média. Com o advento do Renascimento toda esta obra de razão cosmologica, de antropologia e de inteligência baseada no teocentrismo começa a sofre modificações que culminará com seu rompimento definitivo no século XIX.


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