12/01/2014

O "eu" como farsa

A ideia de ser quem se deseja ser é uma farsa. Uma farsa época-cultural. Ninguém nunca foi e nunca será quem deseja ser. O motivo é bem simples: esse “ser” que nasceria da nossa vontade e independente de qualquer determinação e que produziria o “eu” é pura ficção, alienação ou crença; todo e qualquer “eu” nada mais é que produção em massa e serial na linha de montagem de toda e qualquer cultura que necessite da noção de “eu” para se manter. 
É simples assim, a noção de “eu” é um produto cultural como qualquer outro e enquanto tal exerce uma força de pressão avassaladora sobre todos, sujeitando todos às suas determinações. Assumimos o “eu” que a cultura deseja. A conclusão a que se pode chegar é mais simples ainda: o “eu” é uma forma de assujeitamento cultural e como tal se encontra a serviço das mais diversas instituições que compõem uma sociedade.
Logo, uma sociedade na qual todos produzem o “eu” que deseja ser é uma impossibilidade. Se cada um fizesse nascer o “eu” que deseja a sociedade não se manteria, pois o caos tomaria conta.

P. S. 1: Quer ver o mundo tomado pelo caos? Crie e seja o “eu” que deseja.

P. S. 2: Há os resistentes, aqueles que tentam ser outra coisa que não um “eu”, mas esse serão classificados sob diversas designações conforme a época e o contexto cultural e para contê-los existem várias instituições de repressão, reeducação, segregação e/ou eliminação.

Alexsandro