Sim, todo mundo quer saber quem de fato é e onde se
encontra. Todo mundo quer saber no que se encaixa, qual seu lugar e propósito
no mundo. Ninguém quer viver a esmo ou sentir-se um ninguém. Por isso gastamos
muito tempo tentando ser o que os outros querem que sejamos e isso por variados
motivos, alguns até que justos, por exemplo, quando se trata de uma questão de
sobrevivência. Não é bom passar a imagem de fracassado - imaginamos que os
outros não nos aceitarão se formos um fracasso. Gostaríamos de ser
celebridades, deuses do olimpo, mas as celebridades são falsos humanos, elas
não existem como são apresentadas, são apenas recortes de momentos, recortes esses
que qualquer um pode fazer - podemos recortar a vida do mais miserável ser
humano e mostrar só o que há de legal na experiência dele. E quanto aos deuses,
simplesmente não existem. Também buscamos receitas de bem viver, mas tais
receitas não funcionam para a maioria das pessoas, o que isso significa? Não
muita coisa, também nada muito simples. Significa apenas que não existe receita
infalível. Ou, que é a hipótese que aposto, cada um tem que inventar a sua
receita de bem viver. Acho isso muito legal, pois abre uma imensa possibilidade
de libertação de tudo aquilo que nos aprisiona. Pois se existisse uma receita
para o bem viver ficaríamos prisioneiros da receita, logo ela viraria uma
doutrina do bem viver e no limite uma ditadura, algo fascista.
Claro que no mercado das realizações há muita oferta de
receitas para o bem viver. Há algumas que, por exemplo, apostam no amor, no dinheiro,
no trabalho, na religião ou nos filhos, todavia, em nenhuma dessas apostas há garantias
de realização. No que devemos apostar, então? Não sei. E se soubesse não diria,
pois esse é um trabalho de todos e de cada um, qual seja, inventar a sua
receita de bem viver. É um trabalho solitário e delicado.
Há uma espécie de problema que chamo de problema delicado. O
problema de querer que a receita que inventamos ou descobrimos sirva para
todos. É aqui que o bicho pega. Nem sempre os outros estarão dispostos a
participar da nossa receita de bem viver. E tudo vai ficando mais complicado
quando entendemos que a relação com os outros ganha importância no fato de que só
por meio dos outros posso ser salvo da insuportável leveza de ser alguém tão
pouco, tão pequeno, mesquinho, quase nada ou ninguém. A minha fragilidade só
pode ser superada no outro e com o outro, nas relações que construo com os outros.
Mas quem é esse outro ou outros? Eu não sei, cada um tem que descobrir, cada um
tem seu outro, seus outros. De outra parte existe o problema da solidão: ter
que entender que a receita é minha e os outros não têm nenhuma responsabilidade
sobre ela, que os outros não têm obrigação de participar dela.
Alexsandro