O fato é que precisamos ultravalorizar a nós mesmos e todos os nossos objetivos por uma simples questão de autopreservação. A motivação humana sustenta-se neste tipo de autoengano. Talvez isso não seja tão ruim, só é estranho. (André Díspore Cancian)
O autoengano é a chave para suportar a vida e fazer dela
algo que valha alguma coisa. Tudo que fazemos, o empenho que investimos, os
sentidos que desejamos encontrar nas coisas com as quais nos envolvemos
funcionam como uma armadura protetora diante do absurdo da vida. Mais do que
apenas uma forma de preenchermos o tempo de uma vida, são o energético
motivacional da vida. Caminhamos buscando uma direção que nos pareça a menos
angustiante e dolorosa possível. Valorizamos as coisas mais idiotas ou esperamos
delas grandes consequências. Elevamos as expectativas a níveis que nenhum outro
animal poderia sequer imaginar caso pudessem fazer. Valorizamos tanto a nós
mesmos que chegamos a esquecer do básico sobre quem somos: seres mortais.
Aconteceu-nos uma coisa realmente curiosa: nós, literalmente, esquecemos de que temos de morrer. É esta a conclusão a que chegaram os historiadores depois de terem examinado todas as fontes escritas da nossa época. Uma investigação realizada nos cerca de cem mil livros de ensaio publicados nos últimos vinte anos mostra que apenas duzentos deles (0,2%, portanto) tocavam o problema da morte. Livros de medicina incluídos. (Pierre Chaunu)
Alexsandro