11/05/2014

Politização dos corpos


Deveríamos nos perguntar o motivo pelo qual se fala e se comenta tanto sobre sexo numa sociedade cuja quantidade de problemas (políticos, econômicos, sociais, educacionais, religiosos, esportivos, etc.) ultrapassa a nossa capacidade de administra-los. Sim, hoje falar de sexo desvia nossa atenção de tudo aquilo que é importante na nossa vida, até mesmo o próprio sexo, pois não falamos dele como forma de expressão criativa de nosso desejo, falamos dele de forma vulgar e mesquinha, diminuída e pobre, tal qual a forma como ele é praticado pela imensa maioria das pessoas. 
Aldous Huxley intuiu algo que pode ser resumido no seguinte trecho do seu livro  Admirável Mundo Novo: 
"Tal é a finalidade de todo condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social a que não podem escapar". [...] "À medida que diminui a liberdade política e econômica, a liberdade sexual tende a aumentar em compensação". Assim, jogos eróticos são estimulados desde a infância [...].
Muito já foi discutido sobre o livro e sobre o tema, mas muito ainda há para ser discutido, basta pensarmos em temas como: sexualização da infância, sexualização das mercadorias, sexualização das doenças, etc.
Traduzindo: ao invés de nos preocuparmos com a política da vida da nossa sociedade, uma preocupação que deveria ser compartilhada por todos, afinal, nossas vidas, seja no espaço privado ou público, são expressões políticas de ser e de viver e, da mesma forma, ao invés de politizarmos e estetizarmos nossas práticas sexuais, tornando-as mais ricas e menos preconceituosas, assistimos ao que Huxley intuiu: a armação de um jogo no qual desviamos toda nossa atenção para mesquinharias corporais que, como idiotas, chamamos de “nossas práticas sexuais”, achando que elas tem a ver com erotismo, quando, na verdade, não passam de pobres expressões de um corpo colonizado por uma biopolítica do desejo que toma todas as suas forças para torná-lo, sobretudo, um corpo produtor no sistema econômico, enquanto o faz acreditar que sua satisfação se encontra em plena realização. Um corpo que não expressa uma política do desejo para além do que é submetido é um corpo sendo mortificado. 


Alexsandro