Zeca Baleiro tem uma música (Drumembeis) na qual um dos seus
versos diz assim: “Tá todo mundo com medo do fim do mundo / mas pior que fim do
mundo / para mim é o fim do mês.” O que representa essa declaração? Que as
preocupações cotidianas são aquelas que tomam conta de nossas vidas. Estamos
mais preocupados em garantir o próximo fim do mês do que em garantir a
continuação da espécie humana. Que estamos mais preocupados com a água da
geladeira do que a do reservatório. Que pouco importa o mundo todo se o meu
emprego estiver garantido. Que pouco importa o atentado terrorista desde que
não atentem contra meu quintal.
Vivemos atualmente, como população de um país, Brasil, e como
humanidade, uma série de problemas cuja novidade se encontra no grau de sua
escala e no real perigo que representam para a vida humana na forma como ela se
encontra hoje sendo experimentada. Isso significa que, nosso modo de vida pode acabar a
qualquer instante, vivemos sob ameaças constantes, a forma como vivemos é uma
bomba prestes a explodir. O motivo? Muitos problemas que hoje afetam o Brasil
podem ser vistos em outras partes do mundo. E problemas que já afetam outras
partes do mundo logo chegarão por aqui. Problemas para os quais não estamos
preparados para enfrentar e pior, não estamos nos preparando para enfrentá-los.
Não são problemas que virão, são problemas que ai já se encontram em andamento.
Ao listá-los e ao verificar a gravidade de cada um, somado a inércia geral em
não querer perceber. Ou, fazendo de conta que eles não são problemas e se são, não
nos dizem respeito, temos uma equação cujo resultado se apresenta perigoso. A
lista dos problemas que se anunciam não é difícil de fazer, assim como não é um
mistério para ninguém. Mas qual o motivo de não prestarmos atenção? É que
estamos preocupados com o fim do mês.
Colapso econômico
Vivemos na iminência de um colapso econômico. Nossa economia
se baseia em um parâmetro de relação cujo dois dos seus principais componentes
não fecham uma conta exata: a dívida e o crédito. É possível entender a linha
fina na qual todo nosso modo de vida se sustenta se entendermos que há mais
dívidas no mercado do que crédito para pagá-las. Se for somado as dívidas
pessoais, institucionais, empresariais e estatais, há mais dívida no mundo que
recursos financeiros para pagá-las. Vivemos na iminência de uma falência geral,
para tanto basta chegar um momento no qual não se tenha como pagar as dívidas.
Escassez de água
Quando se fala em escassez de água pode parecer um assunto
batido ou do qual todos já tem consciência e esclarecimento sobre a relevância
de compreender os riscos que corremos. O problema é que não é isso que
acontece. Bem pelo contrário, não se encontra em andamento nenhum programa
sério para encarar o problema.
O Brasil é um bom exemplo do descaso geral de como o
problema da água vem sendo tratado: desperdícios os mais variados e
contaminação pelos mais diversos tipos de produtos definem a forma
irresponsável como tratamos a água por aqui. Mas vale lembra que isso acontece
no mundo todo.
Crescimento populacional em um mundo de recursos finitos
Outra conta que não estamos fazendo é a da relação entre
recursos finitos e crescimento populacional.
A população brasileira mais do que dobrou em menos de
cinquenta anos. Se formos analisar esse crescimento em termos mundiais a
questão fica ainda mais grave. O que assistimos é o consumo cada vez mais
rápido dos recursos naturais por um número cada vez maior de pessoas.
Se somarmos escassez de água e crescimento populacional o
quadro fica delicado: devemos entender que para sobrevivermos dependemos de
produtos, alimentícios ou não, vindos das mais diversas partes do mundo, esses
produtos precisam ser produzidos e depois transportados, o que temos é uma bola
de neve que só cresce. Muitos desses produtos demandam água ou a poluem. Água
que precisamos em maior quantidade a cada ano por conta do aumento
populacional. Uma população que consome cada vez mais, o que leva a diminuição
dos recursos naturais e que polui a água em ritmo também crescente.
Um mundo sustentado pelo petróleo
Chegamos ao limiar de uma era – a era do petróleo. Criamos
toda uma civilização dependente de um produto natural finito e que agora aponta
para seu final. O mais grave aqui é que não há alternativa viável que o substitua,
ou seja, não existe nenhum outro recurso que consiga fazer aquilo que o
petróleo faz com o grau de sua abrangência e velocidade.
Para avaliar o significado do fim do petróleo e do impacto
que isso causará basta pensar em apenas cinco setores do nosso modo de vida
cuja presença dele é significativa, para não dizer fundamental em alguns:
remédios, fertilizantes, comidas, produtos plásticos e combustíveis.
Terrorismo nuclear
Diz respeito a posse de armas nucleares por grupos
terroristas. Um problema para o qual poucos dão atenção, mas cujo perigo é real
e devastador. Um perigo que não exclui ninguém.
Vivemos na eminência de uma crise energética. Vivemos na
eminência de uma pandemia. Vivemos na eminência de um colapso da produção e distribuição de
alimentos. Agora fico imaginando o seguinte: se uma greve de caminhoneiros desestabilizou nosso modo de vida, o que dizer de problemas realmente graves, como a falta de
combustível? Se a maior cidade do país passa pela crise mais séria de sua
história em termos de falta de água e nada de relevante está sendo feito, o que
dizer do resto do país? A resposta é simples, mas assustadora: não estamos preparados,
seja individual ou coletivamente, para enfrentar os problemas que virão.
Alexsandro