Não faz muito tempo que encontrei um colega que já não via a
certo tempo e como em todo encontro inesperado, com pessoas a quem conhecemos mas
com quem não mantemos laços muito profundo, geralmente recorremos a perguntas
trivias e foi assim que fiz, iniciei perguntando como andava o curso – ele havia
começado um curso universitário fazia um tempo. Disse que estava indo, que já
se encontrava no sexto semestre e continuou falando mais um pouco. Quando parou
de falar interroguei sobre sua esposa, perguntei como ela estava e se também
continuava estudando – eu sabia que ela estudava na mesma universidade. A resposta
que obtive foi curiosa e é por conta dela que escrevo este texto.
Ele disse que ela tinha parado de estudar, que estava
desempregada e que não tinha como pagar a universidade, que provavelmente
voltaria assim que as coisas melhorassem. O que achei curioso? A naturalidade
com que falou sobre a situação da esposa, como se o que ela estava passando não
fosse de sua responsabilidade, ou seja, o fato dela não está estudando por não
poder pagar a mensalidade não fazia parte do rol dos seus problemas, era,
acredito que ele pensa assim, problema dela. Ele agiu como se não fosse.
Tal fato isolado que vivenciei chama ainda mais a atenção
quando passamos a perceber que ele não é isolado, pelo contrário, é um fenômeno
vivido por muitos casais. São os casais congruentes em relacionamentos puros ou,
como prefiro chamar, casais de contas separadas.
O que é um casal congruente? É um casal que estando juntos
podem ou não viver vidas separadas. É o casal que ao fazerem coisas juntos acham
aquilo bom, mas se um deles tivesse de fazer sozinho não ai fazer a menor
diferença. Enfim, podem fazer coisas juntos, mas se não fizerem não faz a menor
diferença. Se um tem dinheiro e o outro não tem, o problema não é sentido como
sendo do casal. Cada um tem sua própria lista de contatos e pouco importa quem
são os contatos do outro. Quando um decide fazer alguma coisa, acredita que
comunicar já é o bastante e algo para além disso é desnecessário, afinal,
sente-se livre para optar por aquilo que lhe for conveniente e fazer o que
achar melhor. Quanto ao outro? Fará o mesmo quando chegar sua vez.
O que é um relacionamento puro? É o relacionamento que “tende
a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se
entra ‘pelo que cada um pode ganhar’ e se ‘continua apenas enquanto ambas as
partes imaginem que estão proporcionando a cada uma satisfações suficientes
para permanecerem na relação’.
O atual "relacionamento puro", na descrição de
Giddens, não “é, como o casamento um dia foi, uma "condição natural"
cuja durabilidade possa ser tomada como algo garantido, a não ser em
circunstâncias extremas. É uma característica do relacionamento puro que ele
possa ser rompido, mais ou menos ao bel-prazer, por qualquer um dos parceiros e
a qualquer momento. Para que uma relação seja mantida, é necessária a possibilidade
de compromisso duradouro. Mas qualquer um que se comprometa sem reservas
arrisca-se a um grande sofrimento no futuro, caso ela venha a ser dissolvida.”
Quais as consequências de uma vida de casal congruente em
relacionamentos puros? Responder exige outro texto e por hoje já gastei minhas
quinhentas palavras.