06/06/2010

Três notas sobre melancolia


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Nota 1.
No período da Renascença e do Romantismo a melancolia era considerada como uma doença bem-vinda, uma experiência que enriquecia a alma. Mas hoje o efeito dela é totalmente ao contrário. O chato do Sigmund Freud, em seus estudos sobre o superego, se deparou com a melancolia, mas ao contrário dos renascentistas, definiu-a como um caso psiquico que assume várias formas clínicas, passíveis de tratamento. Neste sentido ele apontou que a melancolia se assemelhava ao processo do luto, mas uma perda sem perda, algo apenas de indole narcisica. Neste sentido, pessoas melancólicas olhariam a si próprias como "inúteis", "incapazes", "imprestáveis", "irritantes", enfim, sem valor positivo algum. Nos opomos a essa visão.
A melancolia é uma crítica dos sentimentos. Dessa forma ela pode ser entendida como uma crítica dos sentimentos que em nós desejam compactuar com o capitalismo, o mercado e a vida como eles apresentam. Ela é o reconhecimento da falta de significado intrínseco as coisas em si mesmas. Como a melancolia se manifesta em todas as esferas da sociedade, ela traça um mapa para nos situarmos frente a valores e ideais. Ela represa e faz apodrecer aspectos centrais da sociedade burguesa: a alegria do mundo das mercadorias; a valorização extrema dos números valorando as coisas e as pessoas; a exaltação às técnicas mecânicas do fazer; os desejos individualizados como única expressão de vida possível. Não de outra forma, a melancolia deve ser lida como uma crítica à vida moderna capitalista uma vez que com esta desenvolve uma relação complexa e de completa oposição: uma expressão de crítica social na qual reside a capacidade de incorporar lucidez diante da sensibilidade plastificado e homogeneizada, à venda em bancas e farmácias.



Nota 2.
No poema "Queixas Noturnas", Augusto do Anjos assim escreve:
...................................................................
Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!

Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!

Que dentro de minh'alma americana
Não mais palpite o coração - esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!

Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!

Melancolia! Estende-me a tu'asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!
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Nota 3.
"I Started a Joke" (Eu fiz uma piada) é uma música dos Bee Gees, lançada em 1968. É uma das canções mais famosas da banda. A letra possui um tom também melancólico.



Eu fiz uma piada
a qual fez o mundo inteiro começar a chorar.
Mas eu não percebi
que a piada era comigo, oh não...

E eu comecei a chorar
o que fez o mundo inteiro começar a rir.
Se eu somente tivesse percebido
que a piada era comigo...

E eu olhei para os céus,
passando minhas mãos sobre meus olhos.
E eu caí da cama,
amaldiçoando minha cabeça pelas coisas que disse.

Até que eu finalmente morri,
o que fez o mundo inteiro começar a viver.
Se eu apenas tivesse percebido
que a piada era comigo...

E eu olhei para os céus,
passando minhas mãos sobre meus olhos.
E eu caí da cama,
amaldiçoando minha cabeça pelas coisas que disse.

Até que eu finalmente morri,
o que fez o mundo inteiro começar a viver.
Se eu apenas tivesse percebido
que a piada era comigo...
Oh não, que a piada era comigo...


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