Vivemos um momento no qual muitos dos papeis que foram
investidos de um caráter totalmente másculo já não respondem mais as novas
exigências que se fazem presentes. Se por um lado existe uma imensidão de
possibilidades de ser e de viver há, por outro, uma espécie de sufocamento
diante das dúvidas sobre qual identidade escolher, e como a por movimento. Ser
apenas mais um macho no meio de outros machos correndo atrás de dinheiro,
mulher e poder já não é suficiente. Os homens vivem uma série de dilemas, medos
e o que é mais terrível, não podem transformar esses dilemas e medos em
palavras, não podem confessar que não sabem o que fazer nem que direção seguir.
E assim um problema terrível é tratado como um probleminha qualquer – e o homem
de hoje não encontra apoio para se tornar um homem melhor.
Sim, os homens estão sofrendo. E por que os homens estão
sofrendo? Pode-se sofrer por vários motivos, mas há alguns motivos que são mais
recorrentes que outros quando falamos de sofrimento masculino. Não se trata de
descrever aqui sofrimentos advindos de acidentes ou de doenças, da falta de
trabalho ou de mulher. Sofre-se, sobretudo, por não se poder ser o homem que se
deseja ser. Sofre-se por não ter a quem recorrer quando se quer desabafar sobre
o desconforto que é não poder ou não saber ser um homem pronto para o tempo e a
realidade que se apresenta para ele.
De um lado vemos os homens e do outro os papeis que eles têm
de viver. Os dois lados já não fazem conexão. Pois o que temos é: de um lado os
homens e do outro um conjunto de papeis destinados a esses homens que já não
fazem o mesmo sentido que faziam antes. É desse dilema que nasce a questão:
quais os papeis que cabem hoje aos homens viverem e como estes papeis devem ser
vividos?
A velha formula básica de dinheiro, trabalho e mulher já não
preenche tão bem e completamente como um dia pôde ter feito, dando a este
homem a segurança e a coragem necessária para encarar a vida e seus dilemas.
Afinal, a vida era breve e os dilemas eram poucos (para a grande maioria dos
homens se resumia a escolha da mulher que cuidaria da casa e de como prover a
família). Os antigos hábitos que denotavam masculinidade se encontram diante de
uma realidade cujos papeis que vivenciavam esses hábitos já não possuem as
antigas justificativas que legitimavam suas formas de ser. É certo que os
velhos modelos de masculinidade ainda podem ser vistos ou citados como boas
referências em vários lugares (filmes, revistas, novelas, programas, assim como
nas falas de pregadores de vários âmbitos), mas não esconde o fato destes
modelos estarem deslocados no tempo e espaço.
O resultado é que hoje os homens são uma represa
inconfessável de sentimentos barrados e nada ou muito pouco de afetuosidade.
Não é de estranhar que a solidão masculina é tão pouco vista
e falada. Muito pouco ou nada se fala sobre como e os motivos pelos quais os
homens se encontram sozinhos. Os homens são seres em solidão e em silêncio.
Haja vista o fato dos homens não se envolverem emocionalmente com os problemas
de outros homens, uma vez que há uma regra silenciosa do universo masculino no
qual nenhum homem deve recorrer a outro homem para mostrar fragilidade. Daí que
para os homens as emoções não podem ser transformadas em palavras, a não ser
que saia na forma de agressão ou queixa bruta, nunca na forma de desamparo,
fragilidade ou dor. O resultado é que pouco se fala, sobretudo seriamente, dos
dilemas atuais dos homens. A ideia geral é: se tem dinheiro no bolso, se pega
mulher e toma cerveja, não tem do que reclamar. E assim vemos andando pelas
ruas homens e mais homens que não se apresentam como portadores de uma postura
mais afirmativa diante da vida e dos outros. Homens anoréxicos de sentimentos e
sensação que se empanturram de sons altos, de energéticos e
vodcas que são regurgitados com refrãos de músicas que espelham o espírito de
uma época de homens cujos corpos e almas estão frágeis e infelizes.
P.S.: Em todas as épocas homens e mulheres sofreram. O que
muda são os motivos que levam ao sofrimento. A nossa época nos faz sofrer por
motivos que são advindos da nossa forma de viver, especifica da nossa época,
por conta disso é para estes problemas que devemos encontrar respostas, são
sobre eles que devemos discutir.
Alexsandro
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