¿Quem
ou o que é o “outro”? A resposta adequada a esta pergunta tem como condição
saber de antemão quem pergunta ou a quem se vai responder. O motivo é que o “outro”
é múltiplo. O que denota que o “eu” que pergunta também é múltiplo.
Para
o “eu” o “outro” pode se apresentar sob a pele de inúmeros modos de ser. Logo, toda vez que um “eu” define um “outro”
o próprio “eu” é (re)definido. Vejamos alguns exemplos de como para o “eu”
o “outro” pode se apresentar de diversas formas:
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Na forma animal – sendo o outro um Primata;
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Na forma cibernética – sendo o outro um ciborgue;
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Na forma etária – sendo o outro um velho, uma criança;
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Na forma étnica – sendo o outro um índio, um aborígene, um galego;
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Na forma estratificada – sendo o outro um miserável, um desocupado, um andarilho;
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Na forma estética – sendo o outro um alto, gordo, esquelético, baixo, albino;
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Na forma sexual – sendo o outro um homossexual, assexuado, transexual;
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Na forma política – sendo o outro um estrangeiro, um refugiado, um expatriado.
Em termos teóricos, partimos do conceito de
territorialização definido por Guattari e Deleuze, que, entre outros aspectos,
entende a noção de território como produto de um processo de subjetivação,
fruto de “dobras”, dos agenciamentos dos fluxos, dos movimentos de imagem, de
som, de palavras, de matérias, de sentimentos que caíram nas malhas de um
poder. Neste sentido, podemos entender a noção de “eu” e de “outro” como um
agenciamento, como um dispositivo de poder.
Tanto é que percebemos o “eu” e o “outro” como
categorias fixas, estabelecidas em seus devidos territórios desde sempre lá, estabelecidas
claramente em suas fronteiras cristalizadas, endurecidas. Nunca vemos o “eu” e
o “outro” como possibilidades em movimento, nunca definidos e indefiníveis.
O conceito de “eu” e de “outro” estabelecem
um dentro e um fora. E por entre suas fronteiras circulam potências e sentidos.
Por conta disto, ao tratar de fronteira entre o “eu” e o “outro”, tentamos
percebê-la como um espaço de negociação, de lutas, como uma ‘linha’ sempre em
construção, como um espaço de circulação de alteridades e de afetos’
O “outro” e o “eu” são multiplicados pelos
entreolhares de um sobre o outro. Se o “eu” por si já é um múltiplo de si e o “outro”
também é um múltiplo de si, de um lado a outro múltiplas serão as formas pelas
quais serão afetados, pelas quais um afetará o outro. Tanto é que no contato do
“eu” com o “outro”, sentidos se perdem, deixa de ser, somem, e no reverso,
sentidos vêm, se acham, passam a ser, aparecem. No entrelaçar da alteridade os
antigos ambientes afetivos se tornam ultrapassados para expressão de novos
afetos - movimentos de transformações que se fazem pela e na destruição e no
evaporar de certos mundos, de certas configurações culturais, de certas
relações sociais, de certos sentidos e de certas fronteiras.
Só um cartógrafo dos afetos para traçar as
linhas desta fronteira que o contato do “eu” com o “outro” delineia e que o
movimento dos fluxos de alteridade fazem nascer.
Alexsandro